Monthly Archives: May 2012

Alkantara Festival 2012

De 23 de maio a 10 de junho, a capital acolhe mais uma edição do bienal Alkantara Festival, o mais transversal e exigente programa temporário de artes performativas celebrado em Portugal. Com 21 espetáculos (em 19 dias) que exploram o cruzamento entre o universo concetual, artístico e coreográfico da dança, do teatro e da performance, o Alkantara é um manifesto cultural em defesa de todas as possibilidades estéticas contemporâneas que se delineiam por entre estas fronteiras. Propondo um encontro e um diálogo entre expressões de origem nacional e internacional, a edição deste ano procura dar continuidade a uma tendência de Continue reading

“Rio”, de Carlos Saldanha

Depois da trilogia “A idade do gelo”, o realizador Carlos Saldanha produziu, em conjunto com os estúdios de animação Blue Sky, um filme sobre a sua cidade natal, o Rio de Janeiro, e sobre Blu, uma arara de uma espécie em vias de extinção que redescobre as suas origens e supera os seus medos à medida que vive uma série de arriscadas aventuras e peripécias. Nasceu nas florestas exóticas do Brasil, mas ainda em pequeno foi capturado por um grupo de traficantes de aves que o levou para os Estados Unidos, onde a jovem Linda o encontrou, acolheu e educou – Blu tornou-se um verdadeiro animal doméstico, um tanto mimado, com direito a chocolate quente e biscoitos. Mas quando um ornitologista brasileiro aparece no Minnesota e os avisa que Blu é Continue reading

Josef Albers e Jorge Varanda na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, recebe a primeira exposição em território português de um dos mais influentes pintores, pedagogos e teóricos da arte do último século. Josef Albers nasceu na Alemanha e foi professor na Bauhaus. Quando o regime nazi ordenou o encerramento da escola de Weimar (em 1933), o artista partiu para os Estados Unidos onde começou a lecionar no Black Mountain College e, a partir dos anos 50, em Yale. É nos trabalhos produzidos entre esse período e o final da sua vida, em 1976, que se centra a mostra “Josef Albers na América”. Pintor que preferia a espátula ao pincel, Albers põe na tela a honestidade que o caraterizava e que se refletia numa relação de proximidade com os materiais e num esforço de exploração da Continue reading

Donna Summer [1948 / 2012]

Misto de sensualidade e inteligência pop, Donna Summer (31 de dezembro de 1948 / 17 de maio de 2012) começou por ditar as regras do disco sound, com o auxílio luxuoso do génio de Giorgio Moroder e Pete Bellotte, nos quase 17 minutos da canção “Love to love you baby” e nas restantes faixas do visionário LP de 1975 que tomaria o mesmo título. Incontornável ícone da música popular da segunda metade dos anos 70 e início dos 80, começou por cantar em coros gospel e em bandas influenciadas pelo universo sonoro da Motown, em Boston, cidade onde nasceu. Depois de uma passagem pela Broadway, viajou, com o elenco do musical “Hair”, para a Europa. Na Alemanha, conheceu Moroder, com quem viria a Continue reading

“Procurem abrigo”, de Jeff Nichols

A segunda longa metragem assinada pelo norteamericano Jeff Nichols, que em 2007 se estreou no grande ecrã com o espantoso “Histórias de caçadeira” (“Shotgun stories”), é um aprimorado drama psicológico que joga com a indiscernibilidade do real e os mais subterrâneos temores da espécie humana. Numa interpretação absolutamente notável, Michael Shannon (que repete a parceria com o realizador) é Curtis LaForche, um homem pacato do Ohio, com uma vida perfeitamente feliz, que começa a ser atormentado pela Continue reading

“Estilhaços”, de Steve Lacy

Performance de jazz contemporâneo em rasgo de inspirada improvisação coletiva, “Estilhaços” foi o primeiro disco do género gravado ao vivo em Portugal. Assinalável peça pelo seu imenso valor histórico e documental, o álbum é a memória sonora de um quinteto em absoluta fulgurância incendiária na noite de 29 de fevereiro de 1972, no antigo Cinema Monumental, em Lisboa. No âmbito das emissões de “Cinco minutos de jazz” (hoje, o mais antigo programa diário da radiofonia em Portugal), que então celebrava o seu sexto aniversário, José Duarte foi até Paris para convidar o grupo do saxofonista Steve Lacy para uma atuação em Lisboa. Imaculadamente intrépido nas deambulações mais abstratas do sax soprano, Lacy fez do concerto que se ouve em “Estilhaços” uma irrepreensível e Continue reading

“Nada está escrito”, de Manuel Alegre

Numa “Balada dos aflitos”, Manuel Alegre escreve que “este por certo não é tempo de poesia”. Não tem novas de pão e vinho para um povo assolado por uma crise económica, cultural e identitária, em que pouco mais pode ser do que poeta de um país de bandeira esfarrapada. Mas, neste reino, a quem tudo é recusado e onde tudo se avalia, diz Alegre, figura em que autor e sujeito poético voluntariamente se confundem, “talvez o poema traga um novo dia”. Em “Nada está escrito”, Manuel Alegre faz a apologia da arte poética, essa desconcertante musa que irrompe no silêncio da noite, e reflete sobre o poder do Continue reading