Monthly Archives: September 2013

“The 20/20 experience – The complete experience”, de Justin Timberlake

capa justin timberlake the 20 20 experience the complete experience

A pop adquire dimensão e corpo com o espaço-tempo imposto, com uma expansão flexível que não denota a intenção oculta de tornar o refrão catchy. “The 20/20 experience” é uma estrutura orgânica que pede para ser apreciada, vivida ao longo do seu exigente programa estético. A construção das faixas privilegia um inequívoco respeito pelo ciclo de Continue reading

“Like someone in love”, de Abbas Kiarostami

abbas kiarostami like someone in love

Em 1990, Abbas Kiarostami rodou “Close-up”, sobre o episódio verídico de um homem que se fez passar por um outro cineasta iraniano (Mohsen Makhmalbaf), convencendo uma família a participar num dos “seus” filmes… O estranho efeito de verdade de “Close-up” era tanto mais envolvente quanto alguns dos protagonistas do caso participaram na (re)encenação de Kiarostami, intensificando um dos princípios do seu universo: a verdade é um produto de instável energia, resultando não de uma “transcrição” do que quer que seja, mas de uma verdadeira ocupação da realidade visível. Dir-se-ia que, na sua metódica contundência, a vitalidade de tal princípio não tem limites. Assim, em “Like someone in love”, assistimos ao encontro de uma jovem prostituta com um velho professor, rapidamente baralhado pelo Continue reading

“Os anéis de Saturno”, de W. G. Sebald

capa w g sebald os aneis de saturno

Com a tradução, por Telma Costa, e publicação de “Os anéis de Saturno”, a Quetzal convida-nos a mais uma incursão no universo literário de W. G. Sebald, lidos e relidos que estão “Do natural” , “Austerlitz” e “Os emigrantes”. Não obstante o ponto de partida do romance – uma viagem realizada pelo autor ao litoral britânico banhado pelo mar Negro –, a sua leitura leva-nos a territórios bem mais Continue reading

“Por detrás do candelabro”, de Steven Soderbergh

steven soderbergh behind the candelabra

De que falamos quando falamos de Liberace? Do pianista cujo carisma e exuberância superaram todas as modas, entronizando-o como símbolo abstrato do entertainment? Da celebridade que resistiu até final (faleceu, vitimado por sida, em 1987), inclusive através de ações nos tribunais, ao reconhecimento público da sua homossexualidade? Do ser humano que, para além do fausto das suas performances, viveu uma existência de crescente e angustiada solidão? De tudo isso, sem dúvida. E também do que, através disso, envolve uma visão cética das Continue reading

“Como um trovão”, de Derek Cianfrance

derek cianfrance the place beyond the pines

É verdade que o título português encontra a sua justificação nos diálogos do filme, mas é pena que o sentido geográfico do original – “The place beyond the pines” – se tenha perdido. Sobretudo porque se trata de aludir a uma geografia que, no limite, para além das evidências de qualquer mapa, é sempre interior. Mais do que isso: essa interioridade, sendo emocional, é também eminentemente social, já que, uma vez mais, Derek Cianfrance filma as convulsões de uma Continue reading

“Blue Jasmine”, de Woody Allen

woody allen blue jasmine

De facto, ela não se chama Jasmine. Mudou de Jeanette para Jasmine, procurando garantir alguma vibração romanesca à sua pose social… Mais do que isso: a heroína do novo filme de Woody Allen poderia ostentar o apelido DuBois, de tal modo ele assumidamente a inventa a partir da Blanche DuBois que Tennessee Williams cristalizou, há mais de meio século, em “Um elétrico chamado Desejo”. Enfim, as atribulações dos nomes são sempre tragédias da identidade. E não se fala de outra coisa neste filme que devolve o Continue reading

“O império do amor”, de Michael Winterbottom

michael winterbottom the look of love

Como filmar a teia de poder e dinheiro de Paul Raymond (1925 / 2008), primeiro como empresário de clubes de striptease, depois proprietário de um delirante número de imóveis em Londres, editor de revistas pornográficas e, por fim, um dos homens mais ricos na Grã-Bretanha da década de 90? Michael Winterbottom aposta num registo que, até certo ponto, faz lembrar o seu “24 hour party people” (2002), sobre a música de Manchester e os tempos heroicos da Factory Records: “fingir” que Continue reading