Monthly Archives: February 2012

“Azul 25 linhas”, de João Eduardo Ferreira

Entre conversas com Gonçalo M. Tavares, Manuel Halpern e Firmino Bernardo, hoje, na livraria Pó dos Livros, Lisboa, às 6 da tarde, ficaremos a saber mais sobre João Eduardo Ferreira, engenheiro silvicultor, funcionário público, crítico, escritor, que aí lançará este “Azul 25 linhas”. Depois da trilogia “Corpos estranhos” (editada em 2007 e constituída pelos volumes “I. Na quinta”, “II. Na biblioteca” e “III. Na lagoa”), este número 90 da coleção Literatralhas Nobelizáveis, da editora de livros de cordel Apenas, é o quarto livro publicado pelo autor. “Poder-se-ia chamar ‘diário’. Mas isto não é um diário”, escreve João Eduardo Ferreira na nota prévia. Todavia, é a expressão “diário 1”, devidamente italinizada saliente-se, que figura na capa, ou melhor, na portuguesíssima e Continue reading

“O que você quer saber de verdade”, de Marisa Monte

capa marisa monte o que voce quer saber de verdade

Após declarados louvores, em 2006, pelas antagónicas peças que são “Infinito particular” e a obra prima “Universo ao meu redor”, Marisa Monte regressa com 14 novas canções que deambulam pelos espaços sonoros que o seu programa estético tem procurado captar e, indiscutivelmente, particularizar desde o início do seu percurso discográfico, em 1989. Neste “O que você quer saber de verdade”, encontram-se as filiações já sugeridas em obras anteriores, com a compositora a sublinhar a fidelidade às Continue reading

The Thing e Atomic ao vivo na Culturgest, Lisboa

São duas formações centrais nessa periferia cada vez mais relevante para o free jazz atual que é a Escandinávia, e partilham a espantosa coesão instintiva da secção rítmica norueguesa composta pelo contrabaixo de Ingebrigt Håker Flaten e pela bateria de Paal Nilssen-Love. The Thing e Atomic, que neste próximo domingo, 12 de fevereiro, merecem a honra de subir ao Grande Auditório da Culturgest, Lisboa, nasceram em 2000, reunindo igualmente outros talentos que, nestes ou noutros contextos, viriam a confirmar na última década a imensa vitalidade das suas “vozes” instrumentais: Fredrik Ljungkvist, Magnus Broo e Håvard Wiik, nos Atomic; e o explosivo saxofonista sueco Mats Gustafsson, nos The Thing. Se as lições aprendidas nos manuais decisivos do free e de linguagens improvisadas adjacentes são a matéria prima dos dois grupos, nos The Thing a energia do rock assume um papel igualmente central, condensado em sintomas que vão muito para além das versões que tocam com alguma regularidade de temas de PJ Harvey, The Sonics, The White Stripes ou Yeah Yeah Yeahs. Os Atomic, por sua vez, optam por seguir uma via mais sintonizada com as tradições do hard bop, do free e do improv norteamericano e europeu, sem jamais abdicar de Continue reading

“Fernando Pessoa – Plural como o universo”, na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

Esta exposição foi a primeira sobre um autor português no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (com a conceção da Fundação Roberto Marinho, em 2010), passou também pelo Rio de Janeiro (Centro Cultural Correios, em 2011) e pode ser vista a partir de amanhã, até 30 de abril, na sede da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Contabilizados os visitantes (cerca de 400 mil), parecem de facto muitos, atestação de sucesso para uma exposição tão curta e sintética, embora Continue reading

“Mel”, de Semih Kaplanoglu

Poder-se-ia dizer que “Mel” nos conta uma história. De facto, ela está lá. O pequeno e doce Yusuf (Boras Altas), de seis anos, é o filho de dois pobres camponeses que vivem nas belas e frondosas florestas da Turquia rural. Certo dia, o pai – apicultor e seu grande amigo e confidente – não regressa de um trabalho que o filho e a mulher sabem muito arriscado. “Mel” poderia ser apenas isso. Mas, felizmente, não é. O realizador Semih Kaplanoglu faz da câmara um tocante elogio à sensibilidade, às sensações e aos afetos. Filma a vulnerável ternura do olhar de uma criança, a sua íntima relação com o Continue reading

“Early works”, de Anne Teresa De Keersmaeker, no Centro Cultural de Belém, Lisboa

São três décadas de uma obra que agora se assinalam em Lisboa (cidade com quem mantém uma antiga, regular e saudável relação profissional) com o papel de protagonista na bienal Artista na Cidade e enquanto Artista Associada da Temporada do Centro Cultural de Belém. Uma carreira que, pela dança, faz a permanente apologia da música (também da música das palavras declamadas, p.ex.) como combustível por excelência do potencial criativo absoluto do tempo e do espaço do corpo humano. Nos bailados da coreógrafa Anne Teresa De Keersmaeker e da sua companhia Rosas, as peças sonoras ocupam tendencialmente essa razão da Continue reading

“Jovem adulta”, de Jason Reitman

“Jovem adulta” é uma comédia com sabor a drama agridoce que nos mostra os dissabores do sonho americano de uma prom queen que não soube crescer. Mavis (Charlize Theron) é uma mulher de quase 40 anos, escritora de livros para adolescentes (um género a que orgulhosamente gosta de chamar “young adult”), que regressa à sua humilde cidade natal para recuperar o amor da sua juventude. Este filme poderia ser assim, linearmente básico; contudo, o trabalho conjunto do realizador Jason Reitman e da argumentista Diablo Cody (dupla que assinou “Juno”, em 2007) faz com que “Jovem adulta” resulte numa obra inquietantemente mais profunda. Mavis volta ao local onde cresceu para remexer em Continue reading