Poder-se-ia dizer que “Mel” nos conta uma história. De facto, ela está lá. O pequeno e doce Yusuf (Boras Altas), de seis anos, é o filho de dois pobres camponeses que vivem nas belas e frondosas florestas da Turquia rural. Certo dia, o pai – apicultor e seu grande amigo e confidente – não regressa de um trabalho que o filho e a mulher sabem muito arriscado. “Mel” poderia ser apenas isso. Mas, felizmente, não é. O realizador Semih Kaplanoglu faz da câmara um tocante elogio à sensibilidade, às sensações e aos afetos. Filma a vulnerável ternura do olhar de uma criança, a sua íntima relação com o pai, e recupera o vínculo do homem com a natureza através da imagem cinematográfica. Faz de um ambiente relativamente selvagem lugar de conforto, onde Yusuf pode adormecer com o som do vento e deliciar-se com tudo aquilo que a natureza produz – fundamentalmente o mel, que o pai com todo o carinho procura e prepara. Os grandes planos das portentosas árvores, das colmeias, do céu e dos sorrisos desta criança, que só se sente em casa na floresta, fazem deste filme um marcante acontecimento, não só da história do cinema turco, mas do cinema contemporâneo universal, uma verdadeira apologia das suas dimensões lírica, estética e humanista. Urso de Ouro na Berlinale de 2010, “Mel” é uma obra de encanto absoluto, e está, agora, disponível em dvd.
dvd “Mel” [“Bal”], de Semih Kaplanoglu, com Boras Altas, Erdal Besikçioglu,…
Clap Filmes, 2010 / 2011
João Eduardo Ferreira:
Poder-se-ia inscrever “Mel” na sub-categoria de “cinema de paisagens”. O realizador Semih Kaplanoglu não narra nem explica, simplesmente baixa a câmara ao nível do rosto de uma criança, fazendo o espetador aceitar a elevação de uma floresta cujas colmeias se evadem. Por fim, nós poderemos aceitar o mistério da realidade, mas a criança não.