Entre conversas com Gonçalo M. Tavares, Manuel Halpern e Firmino Bernardo, hoje, na livraria Pó dos Livros, Lisboa, às 6 da tarde, ficaremos a saber mais sobre João Eduardo Ferreira, engenheiro silvicultor, funcionário público, crítico, escritor, que aí lançará este “Azul 25 linhas”. Depois da trilogia “Corpos estranhos” (editada em 2007 e constituída pelos volumes “I. Na quinta”, “II. Na biblioteca” e “III. Na lagoa”), este número 90 da coleção Literatralhas Nobelizáveis, da editora de livros de cordel Apenas, é o quarto livro publicado pelo autor. “Poder-se-ia chamar ‘diário’. Mas isto não é um diário”, escreve João Eduardo Ferreira na nota prévia. Todavia, é a expressão “diário 1”, devidamente italinizada saliente-se, que figura na capa, ou melhor, na portuguesíssima e notarial, de caprichosa e tormentosa fama, folha de papel azul de 25 linhas que aqui se transmuta em capa de livro.
livro “Azul 25 linhas”, de João Eduardo Ferreira
Apenas, 2012
Paula Pina:
Se a típica característica do género diarístico consiste na atribuição de datas, permitindo-se às entradas as mais amplas variações de estilos e conteúdos, encontramos em “Azul 25 linhas” as complexidades da depuração leitmotívica e lampejos fabulísticos, ora urbanos e quotidianos, ora encantadora e referencialmente infantis, naturais e agronómico-faunísticos. Indiscutível o lirismo genuíno e abertamente devedor de seus mestres (Daniil Harms, Cesariny), mas sobretudo a mágica dimensão microensaística, metonimicamente olhando e voltando a olhar sobre o próprio ato da escrita, com uma original competência criativa e epistemológica. “Por tudo isto (e por mim) / por tudo o resto, o invisível / acreditem / isto não é poesia.”, pode ler-se na página 64. “Por tudo isto (e por mim), por tudo o resto, o invisível” (e o indizível), acreditem, isto é poesia, isto é pensar poesia, isto é escrever bem sobre escrever poesia.
