Tag Archives: Paal Nilssen-Love

“Semikujira”, de Arashi, e “Ana”, de Large Unit

De que matéria e predicados se faz, por estes tempos, um baterista de idiossincrática voz criativa, soberano protagonista na evolução hermenêutica do instrumento e do quadro musical em que se aplica, e que ouse abdicar de pueris rotinas malabares? Paal Nilssen-Love sabe-o como poucos. Paal Nilssen-Love sabe-o como os grandes. Paal Nilssen-Love sabe tudo. Paal Nilssen-Love tem todas as respostas. O prodigioso percussionista norueguês tem vindo, sensivelmente desde o dealbar deste século, a forjar uma Continue reading

Jazz em Agosto 2016

jazz em agosto 2016

Tem sido assim, de modo relativamente evidente, ao longo da última meia dúzia de anos: o Jazz em Agosto divide-se novamente, no roteiro que debuta amanhã, dia 4, entre o útil e o fútil, entre a credibilidade e a incredulidade, entre a excelência e a excedência. Há concertos imperdíveis, concertos razoáveis e concertos evitáveis. Mas o que realmente interessa é que existe. O que realmente interessa é que insiste. O que realmente interessa é que resiste. Não é fácil fazer melhor, sobretudo num campo sensorial intelectualmente tão exigente e labiríntico quanto este; contudo, não há como reprimir o Continue reading

“Iruman”, de Akira Sakata e Giovanni Di Domenico, e “Arashi”, de Akira Sakata, Johan Berthling e Paal Nilssen-Love

capa akira sakata iruman

Como um irredutível átomo capaz de escorar toda uma intangível dimensão sonora, narrativa, anímica, ontológica, metafísica – assim é o acurado brio dialético que emana da poética cartografia quartomundista permitida na imensidão sensorial deste sincrético encontro de Akira Sakata – saxofonista e clarinetista crucial na história de mais de quatro décadas do free jazz japonês – com o emérito piano do italiano Giovanni Di Domenico. Discograficamente viabilizado pela gravadora lisboeta Mbari, “Iruman” é uma prodigiosa síntese do generoso e Continue reading

“Schl8hof”, de DKV, Mats Gustafsson, Paal Nilssen-Love e Massimo Pupillo

capa dkv schl8hof

Dois anos depois do mítico concerto na edição de 2011 do festival austríaco Wels Music Unlimited, com curadoria de Peter Brötzmann, a Trost Records lança este “Schl8hof”, memória discográfica desse momento. Ao trio DKV – Hamid Drake na bateria, Ken Vandermark nos sopros e Kent Kessler no baixo – juntou-se uma outra tríade que repete o naipe instrumental: o baterista Paal Nilssen-Love, o saxofonista Mats Gustafsson e o baixista Massimo Pupillo. O possante e volúvel trio americano, cuja fundação remonta a meados da década de 90, distingue-se aqui pelo Continue reading

“Snakelust (to Kenji Nakagami)”, dos Hairybones

São 53 inflamados minutos que esmagam do princípio ao fim da sua audição. Registo do concerto do projeto Hairybones na edição de 2011 do festival Jazz em Agosto da Fundação Calouste Gulbenkian, “Snakelust (to Kenji Nakagami)” une num arrebatador jazz libertário, eminentemente físico, visceral e Continue reading

The Thing e Atomic ao vivo na Culturgest, Lisboa

São duas formações centrais nessa periferia cada vez mais relevante para o free jazz atual que é a Escandinávia, e partilham a espantosa coesão instintiva da secção rítmica norueguesa composta pelo contrabaixo de Ingebrigt Håker Flaten e pela bateria de Paal Nilssen-Love. The Thing e Atomic, que neste próximo domingo, 12 de fevereiro, merecem a honra de subir ao Grande Auditório da Culturgest, Lisboa, nasceram em 2000, reunindo igualmente outros talentos que, nestes ou noutros contextos, viriam a confirmar na última década a imensa vitalidade das suas “vozes” instrumentais: Fredrik Ljungkvist, Magnus Broo e Håvard Wiik, nos Atomic; e o explosivo saxofonista sueco Mats Gustafsson, nos The Thing. Se as lições aprendidas nos manuais decisivos do free e de linguagens improvisadas adjacentes são a matéria prima dos dois grupos, nos The Thing a energia do rock assume um papel igualmente central, condensado em sintomas que vão muito para além das versões que tocam com alguma regularidade de temas de PJ Harvey, The Sonics, The White Stripes ou Yeah Yeah Yeahs. Os Atomic, por sua vez, optam por seguir uma via mais sintonizada com as tradições do hard bop, do free e do improv norteamericano e europeu, sem jamais abdicar de Continue reading