Monthly Archives: March 2013

“Zebulon”, de Peter Evans, John Hébert e Kassa Overall

capa peter evans zebulon

Por mais extraordinariamente idiomática que seja a expressão de Peter Evans – e, nos últimos anos, porventura à exceção de Nate Wooley, dificilmente se encontrará um trompetista com ação de tal forma prevalente no grémio da música improvisada –, há momentos em que possui consequências eminentemente revogatórias. No sábado passado, no Teatro Maria Matos, em concerto com um Rodrigo Amado Motion Trio humildemente empático e Continue reading

“O moinho e a cruz”, de Lech Majewski

capa lech majewski o moinho e a cruz

Há um lugar-comum histórico que nos garante que o cinema é um herdeiro formal da pintura. Herdeiro menor, segundo tal perspetiva… Digamos que “O moinho e a cruz” é um exercício de cinema que toma essa herança à letra, mas para mostrar como nela, e através dela, se exprime a Continue reading

“Ferrugem e osso”, de Jacques Audiard

jacques audiard ferrugem e osso

A tragédia, enfim. A tragédia como paradoxal verdade da existência humana. Jacques Audiard, hélas!, não é um cineasta do otimismo. O que não quer dizer que seja um arauto do niilismo televisivo que triunfou na nossa cultura quotidiana. Segundo a lógica desta ideologia da miséria obrigatória, os seres humanos classificam-se pelo Continue reading

Tulipa Ruiz, disco e concertos em Portugal

capa tulipa ruiz tudo tanto

Após “Efêmera”, o tempo, na sua insensível arbitrariedade, permanece como uma mesmérica presença no exuberante universo de Tulipa Ruiz; como um centro gravitacional para instantâneos ficcionais que tratam, frequentemente, e com um teatral sentido do dramático, da qualidade aleatória das atrações recíprocas, da imoralidade do Continue reading

“A última vez que vi Macau”, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata

joao pedro rodrigues joao rui guerra da mata a ultima vez que vi macau

Vivemos tempos de permanente histeria do “presente”. Nas notícias da televisão, rádio e internet promove-se mesmo esse conceito absurdo de “tempo real” como se correspondesse à capacidade de conhecer tudo como um presente planetário, porventura galático… “A última vez que vi Macau” é um objeto delicadamente consciente de tal conjuntura: a sua revisitação de Macau, motivada pelas Continue reading

“Efeitos secundários”, de Steven Soderbergh

steven soderbergh side effects

Há muito tempo, quase todos os filmes de Steven Soderbergh têm direção fotográfica de Peter Andrews. Que esse seja apenas um pseudónimo do próprio Soderbergh, eis um dado revelador da sua espantosa versatilidade. Em todo o caso, tal “esquizofrenia” não se esgota na sua dimensão técnica, podendo ser encarada também como insólito sintoma de um Continue reading

“Carlo Gesualdo – Sacræ cantiones; Liber secundus”, de James Wood e Vocalconsort Berlin

capa carlo gesualdo sacrae cantiones liber secundus

Não se sabendo bem em que momento desapareceram bassus e sextus do dramático segundo volume, publicado em 1603, de motetos sacros de Carlo Gesualdo (1560? / 1613) para seis e sete vozes – e em consequência do profundo isolamento do compositor na sua última década de vida, uma fase de intensa tortura física, psicológica e espiritual -, presume-se que a obra esteja há 400 anos por Continue reading