“Ferrugem e osso”, de Jacques Audiard

jacques audiard ferrugem e osso

A tragédia, enfim. A tragédia como paradoxal verdade da existência humana. Jacques Audiard, hélas!, não é um cineasta do otimismo. O que não quer dizer que seja um arauto do niilismo televisivo que triunfou na nossa cultura quotidiana. Segundo a lógica desta ideologia da miséria obrigatória, os seres humanos classificam-se pelo rol de acidentes que podem ser imputados às suas existências individuais, suscitando a piedade e o paternalismo dos seus semelhantes. Triste programa… No polo rigorosamente oposto, Audiard filma sempre o desejo de viver como revolta obstinada, nunca apaziguada. A admirável e comovente Stéphanie (Marion Cotillard, genial) emerge como símbolo extremo, por assim dizer extremista, desse desejo: com o corpo brutalmente amputado por um acidente num parque de diversões, a sua história de amor e desamor coloca em jogo os limites do fator humano, nessa medida desafiando a humanidade do próprio cinema. Há, por isso, neste filme muito cru, afinal cristalino, uma reivindicação de realismo que, hoje em dia, adquire uma urgente dimensão política. Ou como, para além do superficialismo dos telejornais, importa não abdicar da verdade.

14 março [estreia nacional]
filme “Ferrugem e osso” [“De rouille et d’os”], de Jacques Audiard, com Marion Cotillard, Matthias Schonaerts,…
Leopardo Filmes, 2012 / 2013

João Lopes

 

texto no Sound + Vision [ 1 ]

texto no Sound + Vision [ 2 ]

 

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