Monthly Archives: June 2012

“O novo ofício” no Museu Berardo, Lisboa

A mostra que hoje se inaugura (às 7 da tarde) no Museu Coleção Berardo, e que aí ficará patente até ao final de agosto, propõe-se reclamar um campo próprio de discernibilidade para a investigação musical mediante a sua presença física no espaço expositivo. Tomando como ponto de partida peças dos finais do século XIX, a exposição traça um fio condutor até à contemporaneidade, cujo eixo de leitura é o seu caráter multidisciplinar, híbrido, ambíguo e objetual. Artefactos, instalações, marginais obras escultóricas e performativas convocam plasticidades sonoras para com elas se consubstanciarem e preencherem as extensões museológicas que o espetador percorre e Continue reading

“A gruta dos sonhos perdidos”, de Werner Herzog

No cenário idílico e prístino de Pont d’Arc, no sul de França, três exploradores depararam-se, em 1994, com pinturas rupestres de devastadora beleza e inefável relevância histórica. Uma caverna, imaculada pelo gelo cristalino, mantinha intactas as mais antigas memórias figurativas jamais encontradas: as pinturas da Gruta Chauvet (nome atribuído em homenagem ao principal responsável pela expedição, Jean-Marie Chauvet) seriam datadas com 32 mil anos, o dobro dos registos cronologicamente mais distantes até então conhecidos. Praticamente inacessível e de acesso interdito (por motivos de conservação), este lugar genesíaco foi contemplado por poucos, até ao momento em que Werner Herzog conseguiu uma Continue reading

“Shakespeare”, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa

“Raramente um autor se viu ao espelho tão friamente e se mostrou refletido com tão escassa indulgência” como William Shakespeare. Num ensaio de suma erudição, Giuseppe Tomasi di Lampedusa (escritor de um único romance, “O leopardo”, que Luchino Visconti adaptou para o cinema), apresenta uma análise rica, depurada e singularmente transversal sobre a vida e a obra do génio de “Hamlet”. “Shakespeare” constitui um capítulo do curso de literatura inglesa do pensador siciliano, em que Lampedusa examina os quadros biográfico e literário do poeta e dramaturgo sem cair nos cómodos facilitismos de Continue reading

António Palolo e Jef Geys na Culturgest, Lisboa

Com curadoria de Miguel Wandschneider, as exposições de António Palolo e Jef Geys que podem ser vistas a partir de hoje (inauguração agendada para as 10 da noite) no edifício sede da Culturgest põem em diálogo as experimentações formais, conceptuais e visuais dos criadores português e belga. A mostra que propõe “Os filmes” de António Palolo reúne algumas das peças do espólio videográfico do pintor e artista plástico eborense, produzidas entre o final dos anos 60 e 1978. Os primeiros filmes – registados em película de 8mm e, mais tarde, em Super 8 – são composições animadas a preto e branco, conjugando elementos iconográficos reclamados a Continue reading

“O cavalo de Turim”, de Béla Tarr

Anunciado como sendo a obra final de Béla Tarr, “O cavalo de Turim” parte de um episódio da vida de Friedrich Nietzsche para versar sobre a ruína e a devastação derradeiras da existência humana: nas ruas da cidade italiana, o filósofo assiste à brutal agressão de um cavalo, que interrompe abraçando-se ao animal, soluçando, em choro. Em voz off e fundo negro, o cineasta húngaro dá-nos a conhecer o passo que terá levado Nietzsche à insanidade e ao Continue reading

“In c”, “A rainbow in curved air” e “Aleph”, de Terry Riley

Num espaço temporal de poucas semanas, três milagres hipnóticos de um dos deuses da composição minimal monopolizam praticamente o leitor dos nossos mais ousados sonhos musicais. Pela Esoteric, uma chancela da viciante Cherry Red, foram restaurados das primícias os opus “In c” (1968) e “A rainbow in curved air” (1969), nos quais Terry Riley definiu as linhas de desconstrução das linguagens, pela iteração do som, de que a escola norteamericana haveria de descender (pense-se nomeadamente em Steve Reich ou em Philip Glass). Partitura escrita em 1964, “In c” é uma Continue reading

“Urban Sketchers em Lisboa – Desenhando a cidade”, de Urban Sketchers

Em 2008, o jornalista e ilustrador espanhol Gabriel Campanario fundou o Urban Sketchers, um site associado a uma organização sem fins lucrativos que se dedica à dinamização do desenho de esboço rápido. Na sequência do 2.º Simpósio Internacional dos Urban Sketchers – encontro de mais de 200 desenhadores de todo o mundo que teve lugar em julho de 2011 na Faculdade de Belas Artes, em Lisboa –, surge um livro que pretende dar a conhecer as propostas de reflexão, sugestões e exercícios apresentados por alguns profissionais e colaboradores desse coletivo, como Eduardo Salavisa, Ruth Rosengarten, Mónica Cid, António Jorge Gonçalves ou James Richards. O Adamastor, o Largo de Camões, o Chiado, o Elevador de Santa Justa, o Miradouro de São Pedro de Alcântara, entre outros locais emblemáticos da capital, serviram de pano de fundo às explorações visuais de amantes da Continue reading