“In c”, “A rainbow in curved air” e “Aleph”, de Terry Riley

Num espaço temporal de poucas semanas, três milagres hipnóticos de um dos deuses da composição minimal monopolizam praticamente o leitor dos nossos mais ousados sonhos musicais. Pela Esoteric, uma chancela da viciante Cherry Red, foram restaurados das primícias os opus “In c” (1968) e “A rainbow in curved air” (1969), nos quais Terry Riley definiu as linhas de desconstrução das linguagens, pela iteração do som, de que a escola norteamericana haveria de descender (pense-se nomeadamente em Steve Reich ou em Philip Glass). Partitura escrita em 1964, “In c” é uma resistente exploração do autor e “idealmente um grupo de 35 músicos” a partir dos infinitos padrões do dó maior (na primeira gravação, aqui recuperada, Riley toca saxofone com um ensemble de Nova Iorque). Combinação de camadas tonais, estratégias definidas a partir de conceitos de pulsação e duração, são 42 minutos de exercício de espontaneidade e sensibilidade em torno de um ciclo que se repete ad aeternum. Se, com “In c”, o compositor traçou, pela delapidação das imagens, os segmentos matriz do minimalismo, em “A rainbow in curved air”, disco lançado no ano seguinte, elevou o espaço tímbrico ao experimento avant garde e psicadélico. Com recurso a técnicas de manipulação sonora (o overdub, as gravações em loop, o delay), Riley, responsável por toda a instrumentação, toca órgão elétrico, sintetizadores e percussões de inspiração oriental (ambiência musical que começaria a explorar a partir da década de 70 com Pandit Pran Nath). Uma narcótica estrutura de fragmentos, colagens e variações, que ecoa ainda a improvisação jazzística (fundamentalmente no lado B, “Poppy Nogood and the Phantom Band”), faria de “A rainbow in curved air”, tal como “In C”, uma obra absolutamente crucial para se compreender a fundo a história da música moderna. Paralelamente a estas duas fulgurantes reedições, o septuagenário apresenta neste ano o duplo álbum “Aleph”, insigne jornada mística pelo judaísmo, publicado com a benção de John Zorn na sua Tzadik. Performance a solo na qual Riley usa apenas um Korg Triton Studio 88, esta meditação feita no limbo, repleta de reverberações, repercute de forma irredutível a trajetória criativa de um dos mais arrojados iconoclastas da música de arte contemporânea.

disco “In c”, de Terry Riley
CBS / Esoteric / import. Flur, 1968 / reed. 2012

disco “A rainbow in curved air”, de Terry Riley
CBS / Esoteric / import. Flur, 1969 / reed. 2012

disco “Aleph”, de Terry Riley
Tzadik / Flur, 2012

 

site de Terry Riley

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