“O novo ofício” no Museu Berardo, Lisboa

A mostra que hoje se inaugura (às 7 da tarde) no Museu Coleção Berardo, e que aí ficará patente até ao final de agosto, propõe-se reclamar um campo próprio de discernibilidade para a investigação musical mediante a sua presença física no espaço expositivo. Tomando como ponto de partida peças dos finais do século XIX, a exposição traça um fio condutor até à contemporaneidade, cujo eixo de leitura é o seu caráter multidisciplinar, híbrido, ambíguo e objetual. Artefactos, instalações, marginais obras escultóricas e performativas convocam plasticidades sonoras para com elas se consubstanciarem e preencherem as extensões museológicas que o espetador percorre e habita. Comissariada pela vital promotora de agitação musical Filho Único, esta mostra é organizada a dois tempos – para além, obviamente, dos múltiplos tempos, durações e escalas sobre o qual o seu programa estético e pedagógico se escora. Numa primeira secção, podem ser apreciadas, em retrospetiva cronológica, peças inaugurais de um período em que a música passou a permitir-se enquanto via para uma rutura artística integrada que em muito transcende a mera preocupação clássica da beleza puramente melódica: por um lado, as que remontam aos tardios anos do século XIX e primigénias décadas do século XX, e, por outro, a sua consequente evolução para outras linguagens artísticas entre o final dos anos 40 e o início dos 90. Fundadoras composições de Erik Satie, manuscritos de Marcel Duchamp sobre a indivisibilidade da “escultura musical”, instrumentos de ruído harmónico de Luigi Russolo, mobiliário sonoro de Léon Theremin e as ondas étereas de Maurice Martenot precedem o transversalmente épico “Poème électronique” de Le Corbusier e Edgar Varèse, uma performance – projetada em video – de Yves Klein, a interativa instalação “33 1/3” de John Cage, as oscilações físicas de Alvin Lucier, uma impetuosa revisitação de “Metal machine music” de Lou Reed, os loops deteriorados de William Basinki e, finalmente, o tormento de Gavin Bryars numa gravação do monumental “Jesus’ blood never failed me yet”. Num segundo momento, anuncia-se “O novo ofício” com a apresentação de criações inéditas desenvolvidas propositadamente por músicos que, tomando por base essa matéria de pensamento, a explora nas infinitas possibilidades de diálogo com as expressões estéticas que lhe são contíguas. Numa última ala, figuram produções contemporâneas de Charlemagne Palestine, Black Dice, Excepter, Jandek, Sei Miguel e Fala Mariam, para um itinerário que contempla pesquisas recetivas a novas discursividades, que os enformados estatutos da arte tardaram a aferir.

20 junho > 26 agosto
exposição “O novo ofício”
Museu Coleção Berardo, Lisboa

 

site da exposição “O novo ofício”

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