Figura atormentadamente crística, Josh T. Pearson parece pertencer a uma região inóspita da mente criativa humana. Na realidade, foi durante quase uma década que nela vagueou, após a cisão com os Lift To Experience e essoutra terra árida que é o Texas onde nasceu. Entre Paris e Berlim, o seu mal errante veio a culminar em poesia amaldiçoada e folk solitária. Em 2011, apresentou a solo o vertiginoso àlbum “Last of the country gentlemen”, documento de honesta confissão e intangível resiliência, em que Pearson, despojado de artifícios, se entrega à purgação de fantasmas passados: o vício do álcool, a depressão, as crises de fé, a traição amorosa. Sobre a perdição e o desespero absolutos, as melancólicas lamentações do angustiado eremita não se permitem a martírios fáceis, sendo desapiedadas de si mesmas, cruas e penosas. Josh T. Pearson não se licencia a sacrifícios, não se anuncia resgatador, salvador ou Cristo, mas desnuda as desilusões e os pecados com que se carrega a insustentável amargura de existir. Combinação de desassossegada voz e guitarra acústica, o último dos cavalheiros da country e da folk de escombros anímicos, descendente de uma “long line in history of dreamers / Each one more tired than the one before”, regressa a Portugal neste fim de semana, meia dúzia de meses depois da sua estreia nacional, para assombrar e iluminar os palcos do Teatro Maria Matos, em Lisboa, e da Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão.
22 + 23 junho
concertos de Josh T. Pearson
Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa [dia 22, 10 pm]
Casa das Artes, Vila Nova de Famalicão [dia 23, 9.30 pm]