Category Archives: Literatura

“Lisboa”, de David Pintor

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David Pintor está em Lisboa. Na verdade, o humorista gráfico, pintor e ilustrador premiado está em Lisboa tanto quanto Lisboa está nele. Viajante experimentado, Lisboa é a segunda cidade, depois de Compostela, a merecer as honras do seu traço elegante, ligeiro e bem-humorado. Neste caderno de viagem, Pintor captura e acarinha pedacinhos da cidade, em perspetivas e ângulos inusitados, acrescentando aos detalhes visíveis ainda outros elementos imaginários, inesperados, simbólicos ou icónicos (uns mais óbvios, outros mais secretos), com a naturalidade e graça de quem adiciona um toque surreal de Continue reading

“O grande Gatsby”, de Baz Luhrmann

capa baz luhrmann o grande gatsby

Se olharmos para os ecrãs do quotidiano, somos forçados a reconhecer que não vivemos tempos de muita paixão pela literatura. A cultura televisiva dominante empenha-se em destruir o gosto da escrita e, convenhamos, possui um poderoso instrumento bélico chamado telenovela… Não admira, por isso, que a adaptação do romance de F. Scott Fitzgerald, “O grande Gatsby”, por Baz Luhrmann, tenha nascido assombrada por Continue reading

“Hannah Arendt”, de Margarethe von Trotta

margarethe von trotta hannah arendt

De onde vem a noção de “a banalidade do mal”, formulada por Hannah Arendt, no ano de 1961, ao escrever sobre o julgamento, em Jerusalém, do nazi Adolf Eichmann? Sabemos que vem de uma exigência radical, radicalmente perturbante e polémica: a de tentar compreender o comportamento de Eichmann para além de qualquer abstração do mal, conferindo especial atenção ao facto de ele próprio se apresentar como um elo “passivo” (banal, precisamente) de uma hierarquia militar. Mas vem também da observação de Eichmann nas imagens do seu julgamento. O filme de Margarethe von Trotta é construído a partir da contundência dessas imagens: existem várias horas de Continue reading

“Os anéis de Saturno”, de W. G. Sebald

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Com a tradução, por Telma Costa, e publicação de “Os anéis de Saturno”, a Quetzal convida-nos a mais uma incursão no universo literário de W. G. Sebald, lidos e relidos que estão “Do natural” , “Austerlitz” e “Os emigrantes”. Não obstante o ponto de partida do romance – uma viagem realizada pelo autor ao litoral britânico banhado pelo mar Negro –, a sua leitura leva-nos a territórios bem mais Continue reading

“Lacrimae rerum”, de Slavoj Zizek

capa slavoj zizek lacrimae rerum

De onde vêm as lágrimas das personagens que o cinema dá a ver? De olhos que, realmente, estão a chorar ou de atores que, de forma mais ou menos perversa, as simulam? Esta questão formulada pelo cineasta de “O decálogo” e “A dupla vida de Véronique”, Krzysztof Kieslowski, serve de mote a um livro fascinante sobre aquilo que o cinema mostra e aquilo que nele vemos… A mesma coisa? Nunca a mesma coisa, garante-nos Slavoj Zizek, quanto mais não seja porque Continue reading

“E os hipopótamos cozeram nos seus tanques”, de William S. Burroughs e Jack Kerouac

capa william s burroughs jack kerouac e os hipopotamos cozeram nos seus tanques

Qual é a metáfora do título? Pois bem, nenhuma… Leia-se na página 42: “O barman tinha o rádio ligado. Um locutor estava a falar sobre um incêndio num circo e ouvi-o dizer ‘e os hipopótamos morreram cozidos nos seus tanques’. Deu estes detalhes com a satisfação untuosa caraterística dos locutores da rádio.” Que está, então, em jogo? Pois bem, não tanto a possibilidade de o real se condensar em redenções mais ou menos metafóricas, mas sim a evidência muito crua, porventura sarcástica, de que o real não é um “objeto” acessível, mas sim uma “coisa” que Continue reading

“Os emigrantes”, de W. G. Sebald

capa w g sebald os emigrantes

A persistência da memória, a sua exploração obsessiva, potencialmente infinita, definem o núcleo da escrita de W. G. Sebald (1944 / 2001). Os quatro retratos de “Os emigrantes” elevam o seu método à máxima potência — através das respetivas atribulações, vai emergindo a imagem ferida de uma Continue reading