Category Archives: Cinema

“Hiroshima, meu amor”, de Alain Resnais, e “Casablanca”, de Michael Curtiz

alain resnais hiroshima mon amour

Que fatores podem ligar o mais mitológico melodrama de guerra produzido por Hollywood, em 1942, e um dos títulos que, em 1959, serviram de bandeira à eclosão da nova vaga francesa? Apetece fazer alguma ironia (ma non troppo…) e dizer que, num tempo em que persiste o novo-riquismo imposto pela Continue reading

“O grande mestre”, de Wong Kar-wai

wong kar wai the grandmaster

Mesmo nos seus momentos mais abstratos e românticos – e pensamos no incontornável “In the mood for love” (2000) –, Wong Kar-wai nunca deixou de ser um obsessivo retratista de Hong Kong, observando nos corpos e pensamentos das suas personagens as marcas de uma história de muitas convulsões. Ainda assim, talvez seja inevitável classificar este “The grandmaster” como uma surpresa, com tanto de desconcertante como de fascinante: um espetáculo de Continue reading

“Jimmy P. – Realidade e sonho”, de Arnaud Desplechin

arnaud desplechin jimmy p

A expressão “realidade e sonho” vem do título do estudo do etnólogo e psicanalista Georges Devereux, publicado em 1951, sobre o índio Jimmy Picard (“Reality and dream – Psychoterapy of a plains indian”). É um título que resume a complexidade dos traumas de Picard, ligados à sua experiência nos combates da II Guerra Mundial. Mas é também uma expressão que se adequa ao Continue reading

“China – Um toque de pecado”, de Jia Zhang-ke

jia zhang-ke a touch of sin

Como condensar numa história um sentimento visceral da China do presente? Jia Zhang-ke prefere não economizar, apostando em contar… quatro histórias. Não é exatamente um filme de episódios, nem corresponde a essa lógica coral que podemos simbolizar em “Magnólia” (1999), de Paul Thomas Anderson. Tudo se passa como se as Continue reading

“A vida de Adèle, capítulos 1 & 2”, de Abdellatif Kechiche

abdellatif kechiche la vie d adele chapitres 1 et 2

Ninguém sabe se Abdellatif Kechiche irá filmar os capítulos 3 e 4 da história de Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux). Em todo o caso, o título assinala a questão radical do filme. A saber: esta é uma narrativa que não caminha para um fim, mas que se vai instalando como uma história impossível de acabar. Aquilo que Kechiche coloca em cena é, justamente, esse Continue reading

“Béla Tarr – O tempo do depois”, de Jacques Rancière

capa jacques ranciere bela tarr o tempo do depois

Em “Os intervalos do cinema” (Orfeu Negro, 2012), Jacques Rancière conduzia-nos através do pensamento que um filme pode conter. Mais do que isso: o filme era encarado como um objeto que pensa, desafiando o espetador e, no limite, o próprio autor que o pensara. Há, por isso, qualquer coisa de lógico na passagem para esta metódica análise da obra do húngaro Béla Tarr, cineasta de “O tango de satanás” (1994), “As harmonias de Werckmeister” (2000) e “O cavalo de Turim” (2011). De facto, ele surge como um criador instalado no Continue reading

“O conselheiro”, de Ridley Scott

ridley scott the counselor

A cena passa-se entre o advogado (Michael Fassbender) e um especialista em diamantes (Bruno Ganz). O primeiro quer comprar um diamante para oferecer à namorada (Penélope Cruz). E convém dizer que esta é uma daquelas histórias em que o fascínio do objeto lapidado arrasta um prenúncio de tragédia. O próprio vendedor resume tal assombramento, aplicando estas Continue reading