Para uma fundamentação da performance enquanto expressão artística independente, RoseLee Goldberg propõe nesta obra, originalmente publicada em 1979, a sua primeira grande abordagem histórica. Um objeto em constante atualização (pela mão da própria autora), “A arte da performance” conhece agora uma segunda e muito completa edição em Portugal pela irrepreensível Orfeu Negro, e integra um novo capítulo dedicado às recentes reconfigurações da performance na viragem para o século XXI. “Arte transgressora”, sempre se firmou como primordial manifestação de rutura e desconstrução das categorias tradicionais da arte – “vanguarda das vanguardas”. Daqui parte Goldberg para uma leitura que toma a performance como corpus de análise e que atravessa a sua história desde os seus alvores com Alfred Jarry e o futurismo italiano de Filippo Tommaso Marinetti ou Francesco Cangiullo. Percorre-se, neste livro, a performance em seminais momentos, com a ensaísta a examinar, a título de exemplo, o construtivismo russo de Vladimir Maiakovski, Aleksei Kruchenikh e Kasimir Malevitch, a provocação insurreta de Hugo Ball e dos dadaístas de Tristan Tzara, o surrealismo de André Breton e Louis Aragon, as sensibilidades da Bauhaus e as teorias de Schlemmer, o advento da performance nos Estados Unidos com o Black Mountain College e os happenings ao vivo de Allan Kaprow, a body art e os acontecimentos coletivos, e a emergente geração de artistas contemporâneos (Marina Abramovic, Zhang Huan, Rabih Mroué,…) que faz uso do corpo, do espaço e dos dispositivos técnicos para um discurso que inscreve a performance como expressão de uma consciência política. Nesta rigorosa investigação, averigua-se a evolução dos lugares performativos, das suas (i)matérias formais e concetuais das mais diversas proveniências disciplinares e propõe-se um diálogo constante com outras fronteiras artísticas que lhe são adjacentes, seja o teatro, a dança ou a pintura. E enquanto experiência que se efetiva na presencialidade, “teatro de participação e agressão”, ação que se funde no quotidiano pelo campo da arte para o questionar e perturbar, perspetiva-se para a performance um domínio de reflexão de possibilidades ilimitadas, que se oferece, por isso, ao universal.
livro “A arte da performance”, de RoseLee Goldberg
Orfeu Negro, 2012