Monthly Archives: April 2013

“Adeus, minha rainha”, de Benoît Jacquot

capa benoit jacquot adeus minha rainha

Desde os tempos heroicos de “L’assassin musicien” (1976) e “Les enfants du placard” (1977), Benoît Jacquot tem sido um cineasta com uma carreira construída nas margens da grande produção francesa: trabalha sobre géneros populares, muitas vezes com grandes estrelas, mas faz um cinema de ambígua identidade estética. Assim acontece, uma vez mais, neste tão ignorado e tão subtil “Les adieux à la reine”. O ponto de partida – Versalhes, os faustos da corte, a eclosão da Revolução – é típico de uma tradicional “reconstituição” histórica, mais ou menos faustosa, mas a dramaturgia escapa a Continue reading

“Fausto”, de Aleksandr Sokurov

aleksandr sokurov faust 2

Em 1972, Eric Rohmer concluiu a sua tese sobre “Fausto” (1926), de Friedrich W. Murnau, intitulando-a: “A organização do espaço no ‘Fausto’ de Murnau”. O título envolve uma sugestão eminentemente pedagógica: a história do homem que vendeu a alma ao Diabo desafia todas as coordenadas do espaço, todos os territórios da narrativa. Que é como quem diz: obriga-nos a rever e reavaliar a suposta consistência do mundo e o modo como, dentro dele, estabelecemos as relações a que chamamos humanas. Quase 90 anos depois de Murnau, e cerca de dois séculos depois de Goethe, Sokurov faz um filme em que Fausto e o seu companheiro diabólico atravessam um Continue reading

“The sirens”, de Chris Potter

capa chris potter the sirens

Pese embora a ocasional acerbidade que projeta nos Underground – e o brilho de duas décadas enquanto líder dignificou um número invulgar de estratégias de promoção mais adequadas a debutantes –, não é propriamente nome que se associe a heroísmos ao saxofone. Pelo contrário, quer pelos seus mais coesos e controlados registos nas editoras Criss Cross, Concord ou Sunnyside, quer pela sua melodista sobriedade ao serviço de Dave Douglas, Paul Motian ou Dave Holland, o seu elementar funcionalismo sobreveio sempre à musculada elegância ou à temperamental consideração das suas leituras. Por isso, desperta alguma perplexidade que, em mais uma estreia – no caso, a primeira gravação em nome próprio para a ECM –, Chris Potter se decida aventurar pelos terrenos do Continue reading

“Regra de silêncio”, de Robert Redford

robert redford the company you keep

Esquecemo-nos quase sempre que a nossa definição do presente começa nos modos de apropriação do passado. A cultura televisiva dominante fundamenta-se mesmo nesse esquecimento: o passado seria apenas uma coleção de datas e nomes, lugares e eventos, quer dizer, uma “reconstituição”. Daí a grande questão estética e política: nada se reconstitui, tudo é narrativa do presente (e para o presente). No novo filme de Robert Redford, o reconhecimento de tal drama condensa-se na Continue reading

Passatempo “Fausto”, de Aleksandr Sokurov

aleksandr sokurov faust 1

O Doodles tem para oferecer, com a amável colaboração da distribuidora Leopardo Filmes, cinco convites duplos para a antestreia do filme “Fausto”, de Aleksandr Sokurov, que tem estreia nacional marcada para a próxima 5ª feira. A sessão terá lugar na véspera, dia 10 de abril, às 21:30, no Espaço Nimas, Lisboa. Para receber um destes prémios, basta que Continue reading

“Taxi driver”, de Martin Scorsese

martin scorsese taxi driver

Em boa verdade, a história do cinema pode (também) ser contada como uma sucessão de conjunturas tecnológicas. Cumprindo uma regra que atrai os mais variados dramatismos: cada uma dessas conjunturas parece perverter os valores da anterior. Afinal de contas, no momento da generalização industrial e comercial do som, Chaplin lamentava a morte do cinema… Trinta e sete anos passados sobre a sua estreia (8 de fevereiro de 1976, nos Estados Unidos), a reposição de “Taxi driver”, em cópia restaurada, ficará por certo como um Continue reading

“Provoke”, de Made To Break

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Curiosamente, “Made to break” é o título de um tratado sobre obsolescência editado há meia dúzia de anos por Giles Slade – que, entretanto, em “Big disconnect”, avançou para a igualmente acutilante temática da tecnologia e solidão, preparando-se para, até ao fim do ano, lançar um caucionário ensaio inspirado pelo iminente êxodo calculado em virtude das consequências do aquecimento global. Mais do que por facilitismo titular, a premência da evocação da obra de Slade no contexto da ação desta nova banda liderada por Ken Vandermark (com Tim Daisy à bateria, David Hoff em baixo elétrico e Christof Kurzmann no software lloopp) advém de, em ambos os casos, se refletir acerca de processos e arquiteturas de controlo – a que não será indiferente a Continue reading