Monthly Archives: July 2014

“Campo santo”, de W. G. Sebald

capa w g sebald campo santo

Em 2012 a Quetzal deu início à tradução e publicação das obras de W. G. Sebald. Dois anos volvidos, surge “Campo santo”, a quinta publicação do autor pela editora. Esta antologia póstuma do escritor germânico, publicada originalmente em 2003, dois anos depois da sua morte, agora traduzida do alemão por Telma Costa, apresenta-se repartida em duas partes. Na primeira estão reunidos fragmentos de um livro que Sebald não chegou a terminar, acerca de uma viagem a Córsega. A segunda parte é constituída por uma diversidade de textos e críticas, alguns deles já publicados de modo disperso, à exceção de Continue reading

“Lese Majesty”, de Shabazz Palaces

capa shabazz palaces lese majesty

Ishmael Butler é aquilo a que se pode chamar um veterano. Há três anos, o lançamento discográfico “Black up” (Sub Pop) marcou a estreia em formato longo do seu projeto Shabazz Palaces, para quase de imediato se tornar, com surpreendente unanimidade, um marco na história recente do hip hop, já de si sobejamente enriquecida por sucessivas tentativas de reinvenção do seu cânone. No entanto, o legado de Butler remonta ao início da década de 90, comandando o trio Digable Planets, que, na sua fusão inovadora de jazz e hip hop, viria a Continue reading

“A flor do equinócio”, “Bom dia” e “O fim do outono”, de Yasujirô Ozu

yasujiro ozu higanbana a flor do equinocio

Parafraseando um dos seus mais emblemáticos títulos, celebremos o facto de, um ano depois da primavera comercial tardia de “Viagem a Tóquio” (1953) e “O gosto do saké” (1962), Yasujirô Ozu estar de regresso aos cinemas portugueses com um ciclo no Espaço Nimas (com uma breve passagem, em agosto, pelo Theatro Circo, Braga, e, em setembro, também pelo portuense Teatro Municipal Campo Alegre), que, a partir de hoje, exibirá três das mais esplendorosas longas metragens da fase final da sua filmografia, agora em versões restauradas digitalmente. “A flor do equinócio” (1958), “Bom dia” (1959) e “O fim do outono” (1960) são três dos apenas seis filmes que Ozu dirigiu a cores. Talvez por esse motivo, as três obras que agora iluminam a sala do Nimas parecem sublinhar e consolidar as particularidades que distinguem a vasta carreira do realizador, não somente quanto às Continue reading

Jagwa Music, concertos em Lisboa, Sines e Barcelos

jagwa music

Possuídos por uma vibrante desinquietação quase não apocalítica, os Jagwa Music, associação de músicos de rua da Tânzania e guardiões universalistas do arsenal de códigos sónicos a que se convencionou chamar mchiriku, constituem-se num som exótico e esotérico, de indesmentível vigor e de inequívoco rigor, de ânsia rítmica e dissonância melódica, viril na Continue reading

Gabriela Albergaria na Vera Cortês Art Agency, Lisboa

gabriela albergaria tronco de arvore derrubada pelo furacao sandy 2012 2014

O corpus artístico que Gabriela Albergaria tem vindo a desenvolver nas últimas décadas tem uma coerência que evidencia um ímpeto entusiasta para explorar um tema até à sua exaustão. Certos trabalhos tiveram origem numa exploração concetual dos jardins e parques enquanto representações do nosso imaginário. No entanto, com esta parecem surgir outros problemas que lhe são extensíveis, tais como a Continue reading

“Iruman”, de Akira Sakata e Giovanni Di Domenico, e “Arashi”, de Akira Sakata, Johan Berthling e Paal Nilssen-Love

capa akira sakata iruman

Como um irredutível átomo capaz de escorar toda uma intangível dimensão sonora, narrativa, anímica, ontológica, metafísica – assim é o acurado brio dialético que emana da poética cartografia quartomundista permitida na imensidão sensorial deste sincrético encontro de Akira Sakata – saxofonista e clarinetista crucial na história de mais de quatro décadas do free jazz japonês – com o emérito piano do italiano Giovanni Di Domenico. Discograficamente viabilizado pela gravadora lisboeta Mbari, “Iruman” é uma prodigiosa síntese do generoso e Continue reading