“Campo santo”, de W. G. Sebald

capa w g sebald campo santo

Em 2012 a Quetzal deu início à tradução e publicação das obras de W. G. Sebald. Dois anos volvidos, surge “Campo santo”, a quinta publicação do autor pela editora. Esta antologia póstuma do escritor germânico, publicada originalmente em 2003, dois anos depois da sua morte, agora traduzida do alemão por Telma Costa, apresenta-se repartida em duas partes. Na primeira estão reunidos fragmentos de um livro que Sebald não chegou a terminar, acerca de uma viagem a Córsega. A segunda parte é constituída por uma diversidade de textos e críticas, alguns deles já publicados de modo disperso, à exceção de dois ensaios relativos à literatura de Peter Weiss e de Jean Améry – e da conturbada relação da literatura alemã do pós-guerra com a memória coletiva – que integravam já a “História natural da destruição” (Teorema, 2006). Os restantes artigos, escritos entre 1975 e 2001, abordam a obra ou a vida de alguns autores que Sebald admirava, como Franz Kafka, Vladimir Nabokov, Bruce Chatwin ou Günter Grass. O largo espetro cronológico das prosas agrupadas em “Campo santo” dá a ver a coerência e uniformidade, não apenas de um estilo literário – o da figura do respigador de tempos e espaços que faz de Sebald um autor tão peculiar –, mas também das questões da deterioração do tempo e da memória coletiva e individual, que acabam por constituir temas transversais a toda a sua bibliografia. O que há de inquietante na escrita de Sebald, e a torna tão genuína e humana, é a ausência de qualquer diferenciação entre a intimidade dos pequenos detalhes e a universalidade dos acontecimentos históricos. O autor vai “esculpindo pacientemente, juntando coisas na aparência alheias umas às outras, ao jeito de uma ‘nature morte’”, como o próprio afirma a respeito do seu trabalho em “Uma tentativa de restituição”, um dos textos de cariz autobiográfico que integra esta nova publicação, escrito pouco antes da sua morte. A escala subjetiva do indivíduo e a escala coletiva da história tornam-se aqui indistintas: a lucidez de Sebald aceitava a impossibilidade de as contemplar separadamente.

livro “Campo santo”, de W.G. Sebald
Quetzal, 2014

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