“A flor do equinócio”, “Bom dia” e “O fim do outono”, de Yasujirô Ozu

yasujiro ozu higanbana a flor do equinocio

Parafraseando um dos seus mais emblemáticos títulos, celebremos o facto de, um ano depois da primavera comercial tardia de “Viagem a Tóquio” (1953) e “O gosto do saké” (1962), Yasujirô Ozu estar de regresso aos cinemas portugueses com um ciclo no Espaço Nimas (com uma breve passagem, em agosto, pelo Theatro Circo, Braga, e, em setembro, também pelo portuense Teatro Municipal Campo Alegre), que, a partir de hoje, exibirá três das mais esplendorosas longas metragens da fase final da sua filmografia, agora em versões restauradas digitalmente. “A flor do equinócio” (1958), “Bom dia” (1959) e “O fim do outono” (1960) são três dos apenas seis filmes que Ozu dirigiu a cores. Talvez por esse motivo, as três obras que agora iluminam a sala do Nimas parecem sublinhar e consolidar as particularidades que distinguem a vasta carreira do realizador, não somente quanto às escolhas narrativas – o tema da família e das transições geracionais afirma-se como pedra de toque da trama dos seus trabalhos –, mas também nos planos ou no uso das cores, que marcam a sua assinatura estilística e que nos permitem perscrutar a sociedade nipónica de então sem nos sentirmos intrusos ou estrangeiros: a câmara parece emprestar ao olhar do espetador uma suavidade que o coloca no espaço fílmico com uma subtileza que anula a violência de um hiato cultural.

yasujiro ozu ohayo bom dia

“A flor do equinócio” marca a deslocação de um Ozu a preto e branco para a experiência com película Agfacolor, numa história que se desenvolve em torno do tópico do casamento enquanto ritual de passagem e transformação, indício de um mundo moderno, progressivamente ocidentalizado, que irrompe no Japão do final da década de 50. Em “Bom dia”, Ozu filma um remake da sua curta metragem “Nasci, mas…”, realizada em 1932, uma subtil sátira que retrata com perspicácia e humor o quotidiano de um pequeno bairro. Entre as intrigas e peripécias que vão surgindo entre a vizinhança, duas crianças parecem tudo fazer para que os pais lhes comprem uma televisão. Ozu confronta-nos de novo com uma sociedade tradicional em que o progresso vai irrompendo. Mas, mais do que isso, “Bom dia” é um filme sobre a força da infância e tudo aquilo que há de ininteligível entre diferentes gerações. Com “O fim do outono”, regressamos ao tema do casamento, agora num tom quase humorístico. Uma mãe viúva e uma filha solteira são vítimas dos arranjos matrimoniais que três amigos do seu defunto marido e pai adotam como missão. As tentativas obstinadas sucedem-se, numa visão quase caricatural do imperativo conjugal e numa reflexão em torno da evolução da posição da mulher japonesa no contexto social. Constante – nestas e na generalidade das obras do realizador – é a visão do tempo como movimento circular e repetitivo, marcado por momentos, como a morte, o casamento, ou uma viagem, que vão assinalando a transição de estação para estação, até estar percorrida a totalidade do caminho. Então, regressamos ao “nada” – ao “mu” –, o ideograma que está gravado no túmulo que Yasujirô Ozu partilha com a mãe em Kamakura.

24 julho [estreia nacional]
filme “A flor do equinócio” [“Higanbana”], de Yasujirô Ozu, com Shin Saburi, Kinuyo Tanaka,…
Leopardo Filmes, 1958 / 2014

24 julho [estreia nacional]
filme “Bom dia” [“Ohayô”], de Yasujirô Ozu, com Keiji Sada, Yoshiko Kuga,…
Leopardo Filmes, 1959 / 2014

24 julho [estreia nacional]
filme “O fim do outono” [“Akibiyori”], de Yasujirô Ozu, com Setsuko Hara, Yôko Tsukasa,…
Leopardo Filmes, 1960 / 2014

 

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