Monthly Archives: March 2012

Feist ao vivo em Lisboa e no Porto

Passaram quatro anos desde que Leslie Feist deu ao mundo “The reminder”, que jamais deixaremos de associar a temas como “My moon, my man”, “I feel it all” ou “1, 2, 3, 4”. Passou demasiado tempo, mas, em 2011, Feist voltou, deitada numa árvore em forma de F, com “Metals”, um álbum muito diferente dos antecessores, mais metálico, como o nome, e mais negro, como a substância. Feist, também ela, parece ter mudado. “Anti-pioneer”, diz-se, provavelmente precisou de regressar a casa para Continue reading

“Na floresta da preguiça”, de Anouck Boisrobert e Louis Rigaud

A lista de autores e artistas, oriundos de diversos campos estéticos, que criaram extraordinárias e inesperadas obras em formato pop up, com ou sem texto, é já extensa e respeitável. Os fãs do livro pop up organizam-se em clubes e sociedades (como The Movable Book Society, fundada pela bibliotecária Ann R. Montanaro, em 1992). O livro pop up pode finalmente constituir, mesmo em meandros académicos, um tema de investigação legítimo e interessante. Atualmente, a capacidade de reinvenção material do Continue reading

“A guerra acabou”, de Alain Resnais

Em 1939, Franco anunciou que a Guerra Civil Espanhola tinha acabado. Porém, uma outra começou – uma ditadura que havia de vigorar por quase 40 anos. Alain Resnais faz da resistência espanhola tema de “A guerra acabou” (num trabalho conjunto com Jorge Semprún, escritor, político e militante da resistência do país vizinho), não para esboçar um seu trivial retrato, mas para, mediante uma esmerada narrativa, nos dar a ver um revolucionário angustiado com o rumo do seu país. Diego (Yves Montand), um dos líderes clandestinos do partido comunista espanhol, vê-se obrigado a regressar a Paris quando percebe que um dos seus camaradas está em perigo. Na fronteira, é detido, mas a preciosa ajuda da jovem Nadine (politicamente solidária com a causa espanhola e com quem se viria a envolver amorosamente) permite que Continue reading

“Muriel ou o tempo de um regresso”, de Alain Resnais

Quando o passado irrompe no presente, instaura-se o caos – sobretudo se esse passado trouxer traumas, desilusões e mágoas. “Muriel ou o tempo de um regresso” é uma estrondosa e perturbadora reflexão de Alain Resnais sobre um passado que regressa ou uma memória dolorosa que insiste em não partir. Resnais é, por excelência, o cineasta do tempo e da memória e desse jogo que se define entre uma suposta linearidade cronológica e a vivência do tempo própria de cada personagem. Em “Muriel ou o tempo de um regresso”, cada um dos protagonistas vive numa Continue reading

Thurston Moore ao vivo em Guimarães e em Lisboa

A alma, voz e guitarra por detrás dos Sonic Youth vem a Portugal apresentar o seu mais recente álbum “Demolished thoughts”, de 2011, um magnífico trabalho de estúdio produzido por Beck. Este é o quarto disco a solo de Thurston Moore, num registo marcadamente distinto do rock iconoclasta da sua banda, mas que dá continuidade a um trilho já traçado sozinho no álbum que apresentara em 2007, “Trees outside the academy”. “Demolished thoughts” é uma reservada e despretensiosa incursão Continue reading

“A escavação”, de Andrei Platónov

capa andrei platonov a escavacao

Memórias da Revolução de Outubro por um dos seus observadores mais críticos, o russo Andrei Platónov (1899 / 1951), autor cuja obra permanecia até aqui inédita no mercado livreiro português. Um romance distópico que esperou sete décadas para Continue reading

“O mundo no arame”, de Rainer Werner Fassbinder

Depois da II Guerra Mundial, da ameaça nuclear e dos grandes avanços tecnológicos, o cinema, se já pensara a ideia de homem-máquina nos seus alvores (de Georges Méliès a Fritz Lang, que o fizera de forma sublime em “Metropolis”), após essa experiência limite do terror, volta a interrogar-se sobre as fronteiras do progresso e as suas implicações em filmes como “2001 – Odisseia no espaço” (Stanley Kubrick, 1968), “Laranja mecânica” (Stanley Kubrick, 1971), “Solaris” (Andrei Tarkovsky, 1972) ou “Blade runner” (Ridley Scott, 1982). É neste plano que parece, em grande medida, enquadrar-se também “O mundo no arame”, longa metragem de 1973 de um dos grandes realizadores alemães do pós-guerra, Rainer Werner Fassbinder, a partir de agora disponível em dvd, na espantosa edição restaurada que já tinha iluminado as salas de cinema portuguesas no final do ano passado. Baseado no romance “Simulacron 3”, de Daniel F. Galouye, este é um filme entre a ficção científica, o drama policial e a interrogação filosófico-ontológica. Fred Stiller, o protagonista, é o responsável por um projeto de informática num grande instituto de cibernética que está a desenvolver uma réplica virtual do mundo, com simulacros de seres humanos. O seu antecessor morreu misteriosamente, deixando um segredo em Continue reading