Monthly Archives: December 2011

“Wolfroy goes to town”, de Bonnie Prince Billy

Outro capítulo de elevadíssimo nível criativo na discografia de estúdio de Bonnie Prince Billy, este “Wolfroy goes to town” reforça as aprendizagens dos igualmente imprescindíveis “The letting go” (2006), “Wai notes” (2007), “Lie down in the light” (2008), “Beware” (2009) e “The wonder show of the world” (2010), alojando-se no seu estratégico centro formal. São valiosíssimas canções de embalar sonhos radicalmente livres (“loving dreams keeps one youthful and free”, canta na inicial “No match”), exercícios de reconhecimento e exploração em torno de um sui generis fantasma country. Uma estratégia sonora deslocada no tempo, mas constantemente a desbravar um trilho próprio – ainda que aparentemente nenhum esforço nesse sentido exista -, cada vez mais intimista, contido e minucioso nos seus modos.  Continue reading

“A sombra do caçador”, de Charles Laughton

Film noir de assinaláveis contornos realistas, “A sombra do caçador” sustenta grande medida do seu génio numa narrativa em implacável crescendo dramático, desenrolada no período da Grande Depressão norteamericana. Um imaculado Robert Mitchum é o Reverendo Harry Powell, profeta de aparência idónea e apologista de um modo peculiar e radical de interpretar e viver os mandamentos sagrados (“a religião que o Todo-Poderoso e eu acordámos entre nós”). O único filme realizado pelo ator Charles Laughton, que conta igualmente com históricos desempenhos de Shelley Winters e de Lillian Gish, é uma obra-prima que deixa marcas indeléveis na memória de todos quantos por ele já se deixaram seduzir e aterrorizar (da canção de embalar que Mitchum canta aos seus novos enteados às tatuagens – “LOVE” e “HATE” – que exibe nos dedos das mãos, muitos são os momentos verdadeiramente antológicos). Agora e sempre, essencial.  Continue reading

“Oinc! – A história do Príncipe-Porco”, de Isabel Minhós Martins e Paula Rego

Assente em seis litografias da série “Príncipe-Porco” (2006), de Paula Rego, e no conto popular italiano que lhes esteve na origem (aqui moldado a partir da versão “Re Crin” de Straparola, contida nas suas “Piacevole notti”, de 1557), a escritora de livros infantojuvenis Isabel Minhós Martins concebe este “Oinc! – A história do Príncipe-Porco” com um equilíbrio exemplar entre o imaginário perturbante e violento da matéria de base e a expressão simultaneamente dramática, irónica e terna que o seu público alvo reclama. Resultante de uma encomenda da Casa das Histórias Paula Rego, esta é outra obra essencial do catálogo da Orfeu Mini e da assinalável colheita de 2011 da literatura para crianças concebida em Portugal. Continue reading

“Sabichão” na Dama Aflita, Porto

Concluindo o seu programa de exposições de 2011, a Dama Aflita, louvável e resistente galeria portuense que faz da ilustração e do desenho os seus campos de ação principais, apresenta a coletiva “Sabichão”. O jogo educativo com o mesmo nome, que muitos ainda recordarão desde os anos 70, é o ponto de partida para os trabalhos inéditos que estarão patentes a partir de amanhã, dia 10 de dezembro (a inauguração está marcada para as 5 pm). A lista de ilustradores convidados para a ocasião reúne consagrados e novos talentos, com estilos e técnicas para todos os gostos: Akacorleone, Bernardo Carvalho, Bráulio Amado, Célia Esteves, Craig Atkinson, David Robles, João Drumond, José Feitor, Júlio Dolbeth, Kruela D’Enfer, Luís Urculo, Madalena Matoso, Maria Imaginário, Marta Monteiro, Min, Nuno Sousa, Oker, Paulo Patrício, Rui Tenreiro, Rui Vitorino Santos, Salão Coboi, Sebastião Peixoto, Yara Kono, Wasted Rita e Zé Burnay. Continue reading

Presentes com futuro, Natal 2011

Escolhemos cinco discos, cinco dvd’s e cinco livros, todos recentes, todos notáveis, todos distintos, como potenciais presentes de Natal com matéria criativa e ideológica para durar por muitos anos na memória afetiva de quem os receber. Continue reading

The Stepkids ao vivo no Porto e em Lisboa

A irrepreensível Stones Throw perdeu Mayer Hawthorne (o ótimo álbum novo, “How do you do”, já saiu na Universal Republic…), mas arranjou rapidamente substitutos para o setor “brancos com inequívoco talento copista vocacionado para a idade dourada da soul e do funk”: The Stepkids. São consideravelmente mais livres e psicadélicos do que Mayer, mas também fazem caber um assinalável rol de referências no álbum homónimo que editaram há poucas semanas: Sly & The Family Stone, Isaac Hayes, Shuggie Otis, O’Jays, Mizell Brothers, Funkadelic, Free Design, etc… Uma esclarecida diversão pop para experimentar ao vivo, hoje no Porto (Plano B) e amanhã, 5ª feira, em Lisboa (Musicbox). Continue reading

Hugo Canoilas no Centro Cultural Vila Flor, Guimarães

Aberta ao público desde ontem, esta exposição agrupa trabalhos recentes de Hugo Canoilas a par com algumas obras pensadas propositadamente para a ocasião. Sem se restringir a tendências, escolas ou linguagens de sentido único, e fazendo a apologia de um vibrante desrespeito por métodos, técnicas, suportes ou quaisquer outras convenções formais, a produção visual de Canoilas é particularmente louvável pelo modo como constantemente se auto-questiona e pelo seu peculiar sentido de “obra em aberto”. Material de construção civil convive com peças que se podem inscrever em cânones mais ou menos correntes das artes plásticas, com destaque para “Endless killing”, monumental pintura com 3,70 metros de altura e 100 metros de comprimento. Uma mostra com um significado simbólico que se constrói eminentemente na sensibilidade de cada visitante que percorra os três pisos do Palácio Vila Flor que a acolhe. Continue reading