Category Archives: Ilustração

“As aventuras de Tintin – O segredo do Licorne”, de Steven Spielberg

É o repórter mais icónico da banda desenhada. Destemido, audaz e com uma sede insaciável por novas histórias, Tintin enriqueceu o imaginário de todos aqueles que sonhavam com as suas arriscadas aventuras pelo Tibete, pelo Egito, pelo Congo ou até pela lua, concebidas por Hergé nos 24 livros que lhe deram vida. Depois de realizar o primeiro tomo da odisseia de “Indiana Jones” – “Os salteadores da arca perdida” (1981) – Steven Spielberg tomou conhecimento da obra do autor belga, na sequência das afinidades que foram apontadas entre as produções dos dois criadores. Fascinado pelo universo verdadeiramente cinematográfico que então se lhe revelara, o cineasta adquiriu os direitos de adaptação da coleção de Hergé. Esta primeira de três longas metragens resulta de uma súmula de outros tantos livros –  “O caranguejo das tenazes de ouro” (1940/41), “O segredo do Licorne” (1942/43) e “O tesouro de Rackham, O Terrível” (1943) –, cujas narrativas se confluem numa trama que leva Tintin e o seu fiel companheiro Milu a Continue reading

“O tigre na rua e outros poemas”, antologia de poesia ilustrada por Serge Bloch

“O poema está lá, mas para o ver é preciso um microscópio”. Poema micróbio, poema absurdo, poema para um sorriso, riso e gargalhada. Poder-se-ia “Pedir com bons modos” – como, aliás, se sugere nesta nova e exemplar peça da Bruaá – tudo isso. Mas esse “tudo isso” já lá está… Sob o signo de Daniil Harms (cuja escrita de pendor vagamente infantojuvenil já havia sido reunida de modo paradigmático, e também pela Bruaá, em “Esqueci-me como se chama”, do ano passado) e da sua sugestiva aparição de um tigre na rua, é agora apresentada uma insigne coletânea de poesia humorística, de (pro)vocação tendencialmente nonsense e vanguardista, que faz viajar todo aquele que a lê pelas Continue reading

“Urban Sketchers em Lisboa – Desenhando a cidade”, de Urban Sketchers

Em 2008, o jornalista e ilustrador espanhol Gabriel Campanario fundou o Urban Sketchers, um site associado a uma organização sem fins lucrativos que se dedica à dinamização do desenho de esboço rápido. Na sequência do 2.º Simpósio Internacional dos Urban Sketchers – encontro de mais de 200 desenhadores de todo o mundo que teve lugar em julho de 2011 na Faculdade de Belas Artes, em Lisboa –, surge um livro que pretende dar a conhecer as propostas de reflexão, sugestões e exercícios apresentados por alguns profissionais e colaboradores desse coletivo, como Eduardo Salavisa, Ruth Rosengarten, Mónica Cid, António Jorge Gonçalves ou James Richards. O Adamastor, o Largo de Camões, o Chiado, o Elevador de Santa Justa, o Miradouro de São Pedro de Alcântara, entre outros locais emblemáticos da capital, serviram de pano de fundo às explorações visuais de amantes da Continue reading

Josef Albers e Jorge Varanda na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, recebe a primeira exposição em território português de um dos mais influentes pintores, pedagogos e teóricos da arte do último século. Josef Albers nasceu na Alemanha e foi professor na Bauhaus. Quando o regime nazi ordenou o encerramento da escola de Weimar (em 1933), o artista partiu para os Estados Unidos onde começou a lecionar no Black Mountain College e, a partir dos anos 50, em Yale. É nos trabalhos produzidos entre esse período e o final da sua vida, em 1976, que se centra a mostra “Josef Albers na América”. Pintor que preferia a espátula ao pincel, Albers põe na tela a honestidade que o caraterizava e que se refletia numa relação de proximidade com os materiais e num esforço de exploração da Continue reading

Maurice Sendak [1928 / 2012]


Imaginou o sítio dos mais grotescos e adoráveis monstros do mundo. Maurice Sendak, um dos mais marcantes e iconoclastas escritores e ilustradores infantojuvenis do século XX, faleceu hoje, aos 83 anos. Nasceu em Brooklyn, em 1928, no seio de uma família judia, e a experiência do Holocausto, que o assolou de forma terrível, afetou o seu modo de ver e sentir a realidade. Sendak, contrariando as tendências moralistas, não retratou a inocência das crianças, mas revelou a sua crueldade e o lado mais negro da infância, traçando assim uma linha inovadora na literatura e na ilustração juvenil. Com “Onde vivem os monstros” (“Where the wild things are”, de 1963), editado em Portugal pela Kalandraka, explorou no pequeno rei Max e na sua relação com um Continue reading

“minhamãe”, de Eugénio Roda e Gémeo Luís

“minhamãe” destaca-se pela originalidade, plural e equilibrada, efetivamente partilhada e partilhável. A dimensão universal da poética da maternidade é escrita, ilustrada, traduzida, produzida por uma equipa internacional e de intenção internacionalizante. A dupla Gémeo Luís (pseudónimo de Luís Mendonça) e Eugénio Roda (pseudónimo de Emílio Remelhe) destaca-se no panorama artístico português, não só pela originalidade da sua linguagem gráfica e articulação textual, como pelos Continue reading

“James e o pêssego gigante” e “Matilda”, de Roald Dahl e Quentin Blake

Dois clássicos imperdíveis de Roald Dahl, a redescobrir nestas recentes edições da Civilização: “James e o pêssego gigante” (originalmente publicado em 1961) e “Matilda” (datado de 1988, dois anos antes da morte de Dahl). O charme intemporal da escrita do autor de “Charlie e a fábrica de chocolate” (que, no ano passado, inaugurou esta coleção da Civilização) e a cuidadosa escolha dos protagonistas destas aventuras (mais ou menos reais ou totalmente inverosímeis) fazem de “James e o pêssego gigante” e de “Matilda” narrativas que nunca passam de moda: tanto James como Matilda são crianças, pequenas e solitárias, aparentemente vulneráveis, vítimas de Continue reading