Monthly Archives: January 2014

“Ninfomaníaca, vol. 2″, de Lars von Trier

lars von trier nymphomaniac volume 2

Estreada a segunda parte da odisseia sexual de Lars von Trier, confirma-se que há qualquer coisa de gratuito e também (peso as palavras) de doentio no facto de este ser um filme socialmente consagrado como uma apoteose do “visível”. O subtexto que o tem acompanhado é qualquer coisa como: “Ninfomaníaca” dá a ver coisas nunca vistas… Cruel ironia: a pornografia reinante, todos os dias sancionada pelas práticas de “entretenimento” do “Big brother” e Continue reading

“Linguagem e silêncio”, de George Steiner

capa george steiner linguagem e silencio

Poucos pensadores contemporâneos conhecem as intermitências da palavra como George Steiner. Depois das nove publicações do crítico contabilizadas até ao anterior “Sobre a dificuldade e outros ensaios”, a Gradiva apresenta-nos agora, numa tradução de Miguel Serras Pereira, “Linguagem e silêncio – Ensaios sobre a literatura, a linguagem e o inumano”, uma coletânea de textos ensaísticos e críticos que contempla algumas das temáticas que distinguem o percurso do autor. A sua lucidez permite-lhe encarar a linguagem como potencial agente do Continue reading

“Golpada americana”, de David O. Russell

david o russell american hustle

Curiosa evidência: se pensarmos em alguns dos melhores filmes americanos lançados em Portugal nas últimas semanas — “O lobo de Wall Street”, “Lovelace”, “12 anos escravo”, “O Clube de Dallas” e, agora, “Golpada americana” —, não podemos deixar de notar o facto de todos eles terem personagens verídicas como ponto de partida. A coincidência merece ser sublinhada. E não exatamente por causa desse naturalismo pueril que, todos os dias, nos é vendido pelas televisões; antes porque por todos estes filmes perpassa uma Continue reading

“Moloch”, “Taurus”, “O sol” e “Fausto”, de Aleksandr Sokurov

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O que define a “Tetralogia do poder”, de Aleksandr Sokurov, não é um princípio de reconstituição histórica. Aliás, mesmo que passemos em claro a discussão de tal princípio (hoje em dia frequentemente contaminado pelo naturalismo simplista de muitas “reconstituições” televisivas), o mais recente destes quatro filmes coloca-se, desde logo, fora do calendário das Continue reading

“Beyoncé”, de Beyoncé

capa beyonce beyonce

Miraculosamente plástica, Beyoncé viabiliza uma especulação inevitável com um trabalho autobiográfico, uma viagem pela espartana exigência com que se dedica à música. “Beyoncé” é um álbum-narrativa, um trilho sonoro e visual que cartografa a experiência artística e criativa de um ícone da pop que deu princípio à sua existência pela própria negação da sua iconicidade. O legado de Beyoncé culmina simbolicamente na Continue reading

“Ilustrarte ’14” no Museu da Eletricidade, Lisboa

ilustrarte 14

O espaço convida a estar sentado, deitado, sapatos abandonados e livros abertos, rosto e mãos colados às 150 molduras-montras que exibem os trabalhos selecionados. Promete-se variedade, delicadeza e arrojo, universos e imaginários representativos de diferentes técnicas, das digitais à Continue reading

“O Clube de Dallas”, de Jean-Marc Vallée

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Um dos aspetos mais singulares da interpretação de Matthew McConaughey em “O Clube de Dallas” é, naturalmente, a transfiguração física a que a sua personagem o obrigou. É mesmo possível “medir” tal transfiguração: o ator perdeu nada mais nada menos que 23 quilos para interpretar Ron Woodroof (e há quem se tenha lembrado que Robert De Niro engordou 27 para, em 1980, protagonizar o “Touro enraivecido” de Scorsese…). Quanto mais não seja para contrariar a lógica pitoresca com que o cinema é muitas vezes encarado nos meios de comunicação, importa acrescentar, com inevitável ironia, que a proeza de McConaughey não está exatamente no peso que perdeu, mas sim no facto de, em tal processo, não ter perdido a Continue reading