“Lovelace”, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman

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A história da protagonista de “Garganta funda” (1972) é, necessariamente, uma saga cinematográfica. Porque a sua protagonista, Linda Lovelace (1949 / 2002), se transformou num símbolo da reconversão comercial da produção pornográfica ao longo da década de 70? Sem dúvida. Mas também porque a dimensão mitológica que o filme adquiriu não pode ser separada de um princípio, também ele mitológico, que acompanha os filmes desde os seus tempos mais primitivos. A saber: o cinema pode ser “mais real” que a própria realidade…  Nas memórias mais ligeiras de tudo isto, sabemos que Linda Lovelace surge como emblema de uma sexualidade que se encena apenas como uma performance mecânica e impessoal. A dupla Rob Epstein e Jeffrey Friedman parte dessa visão maniqueísta para aceder à psicologia da protagonista, trágico veículo da “libertação” feminina, cruelmente instrumentalizada num universo gerido pelo mais violento machismo. Proeza invulgar, sem dúvida, que se espelha no espantoso trabalho de composição de Amanda Seyfried, no papel de Linda, oscilando entre uma candura primitiva e as leis de um gélido mercantilismo. Na revalorização conceptual e narrativa do realismo cinematográfico, este é mais um momento exemplar.

João Lopes

9 janeiro [estreia nacional]
filme “Lovelace” [“Lovelace”], de Rob Epstein e Jeffrey Friedman, com Amanda Seyfried, Peter Sarsgaard, Sharon Stone, James Franco,…
Zon, 2013

 

texto no Sound + Vision [ 1 ]

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