Dois meses depois de “Uma traição fatal”, o cineasta dotado de um dos olhares mais depurados da atualidade regressa à questão do corpo como objeto especulativo, num drama pontuado por uma generosa dose de humor e que retoma alguns dos tópicos centrais da recente narrativa socioeconómica dos Estados Unidos da América. Nesta longa metragem – que pode ser entendida, em certa medida, como um espelho do seu “Confissões de uma namorada de serviço”, filme de 2009 (mas apenas estreado em Portugal há cerca de um ano) sobre uma call girl de luxo em Manhattan -, Steven Soderbergh aborda novamente o tema do mercado do sexo, agora a partir da exploração do universo do striptease masculino. Mike Lane (Channing Tatum) é “Magic Mike” no clube Xquisite, na Flórida, um negócio de sucesso gerido por Dallas (Matthew McConaughey), também ele stripper e sagaz mercenário de fantasias sexuais femininas. Para a principal atração destes “homens de Tampa”, o trabalho como bailarino é, porém, paralelo a outras ambições, entre elas poder dedicar-se a tempo inteiro ao design de peças de mobiliário únicas. Quando a estrela do clube se torna o mentor de Adam, “The Kid” (Alex Pettyfer), a relação de ambos – e as que lhe são contíguas – propicia, precisamente, o confronto entre a duplicidade da vida noturna e a realidade que Mike pretende recuperar. Esta peça é mais um exemplar exercício de jogos de espelhos do realizador norteamericano, em que a imagem da decadência se oferece como eixo de catarse para o protagonista. Imagens e espelhos que permitem igualmente uma singular reflexão sobre esta nossa era dominada pela histeria das luzes e pelo vazio do aparato.
12 julho [estreia nacional]
filme “Magic Mike” [“Magic Mike”], de Steven Soderbergh, com Channing Tatum, Matthew McConaughey,…
Zon, 2012
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