Sobre o tempo, e os seus nós, escreveu Óssip Mandelstam no poema “O século”: “Meu século, besta minha, quem / Te olhará nas pupilas duras, / Quem soldará com o próprio sangue / As vértebras de duas centúrias?” Nestes perturbantes versos, o poeta russo refletia sobre os problemáticos primeiros anos do recém nascido século XX, que contava já, em 1922, quando estas palavras foram escritas, com o fantasma das brutalidades, de inigualáveis proporções até então, da I Guerra Mundial. Nesta coletânea de nove contos, publicada entre nós pouco tempo antes do falecimento de Antonio Tabucchi, enuncia-se na voz de um romancista anónimo “espalmou-se-me o tempo, e também um pouco as vértebras”. Do mesmo modo, aqui se pensa a passagem do tempo na sua imperativa crueldade, bem como as terríveis heranças que o Cronos lega a todos aqueles que estão destinados a ser seus meros peões. Um tempo envelhecido, que se impõe pela memória e Continue reading
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