Antonio Tabucchi [1943 / 2012]

Nasceu numa pequena aldeia da Toscana, em 1943, mas o seu coração dividiu-se entre a sua pátria de origem e a pátria da língua portuguesa. A sua vida fez-se entre a viagem, a imaginação e o sonho, a literatura, que assinou e ensinou. Em Paris, quando jovem, apaixonou-se pela “Tabacaria” de Álvaro de Campos, que o trouxe a Portugal, no final dos anos 60. Fascinou-se por Lisboa e pela obra de Pessoa, conheceu Alexandre O’Neill e Maria José de Lencastre, com quem veio a casar e a traduzir, para o italiano, a obra do génio da heteronímia. Em 1991, já com uma dezena de títulos publicados, do romance ao teatro ou ao conto, Antonio Tabucchi escreveu, em português, um “Requiem” a Fernando Pessoa, uma narrativa em forma de alucinação errante, uma homenagem à língua que amou e que fez sua, à cidade da Rua das Janelas Verdes das “Tentações de Santo Antão”. Três anos mais tarde, narrou ainda os delirantes “Últimos três dias de Fernando Pessoa”. Entre Portugal, Itália e Paris se fez muito da vida e obra de Antonio Tabucchi, homem que se dizia uma espécie de escritor andarilho. “Piazza d’Italia”, o seu primeiro romance, “Noturno indiano” (adaptado ao cinema por Alain Corneau) e o mais recente “Viaggi e altri viaggi” (“Viagens e outras viagens”, ainda não publicado em Portugal) são espelhos de um homem que pareceu seguir a senda de grandes autores da literatura e do ensaio contemporâneos como Italo Calvino, Umberto Eco ou Roberto Calasso. Entre o texto dramático, com referência a Luigi Pirandello, o ensaio, a reportagem, o romance e a ficção, Tabucchi foi merecidamente reconhecido pela transversalidade do seu trabalho. Viu as suas obras nos palcos do teatro e no grande ecrã (no cinema, Fernando Lopes, Roberto Faenza e Alain Tanner também adaptaram “O fio do horizonte”, “Afirma Pereira” e “Requiem – Uma alucinação”, respetivamente), e recebeu, entre outros, o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia, o Prémio Médicis e o Prémio Campiello. A sua obra está, hoje, traduzida em mais de 30 idiomas, e é um nome de referência da literatura do século XX. Em abril, “O tempo envelhece depressa”, um dos últimos títulos de Antonio Tabucchi, será publicado em Portugal, assinalando assim o encontro entre duas culturas que o autor tanto amou e promoveu durante toda a sua vida. Antonio Tabucchi faleceu ontem em Lisboa. Tinha 68 anos.

 

bibliografia essencial:

“O jogo do reverso” [1981, contos]
“Noturno indiano” [1984, romance]
“Pequenos equívocos sem importância” [1985, contos]
“O fio do horizonte” [1986, romance]
“Os voláteis do beato Angélico” [1987, ficção]
“Chamam ao telefone o sr. Pirandello [1988, teatro]
“Requiem – Uma alucinação” [1991, romance]
“Afirma Pereira” [1994, romance]
“A cabeça perdida de Damasceno Monteiro” [1997, teatro]

 

texto no Sound + Vision

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