“Os cadernos de Pickwick”, de Charles Dickens


Se existem escritores universais, porque eternos, um deles é Charles Dickens (1812-1870). Outro, claro, é Mark Twain (1835-1910). A comparação é necessária porque permite especular sobre diversos motivos sem qualquer importância. Uns, talvez ancorados numa língua planetária, outros numa época histórica que punha em causa romantismos, ordens económicas, revoluções industriais. Uma época caraterizada também pela expansão consistente da imprensa, a que se poderá chamar “democratização da leitura”. Através de uma relação constante e jornalística, dir-se-ia cronista, com os seus vastos públicos, o trabalho afincado destes autores baseava-se na criação de um mundo de padrões sociais que eram o reflexo direto dos leitores, revendo nelas não os seus próprios tiques mas os dos vizinhos. Figuras que constituem um catálogo de personagens únicas, dentro de cenários únicos que, exatamente por não terem igual, são pertença de todos. Porém, acima de tudo, o humor vence o tempo e, nisso, os dois autores jamais serão olvidados. Mas, por agora, falemos apenas de Charles Dickens. Estamos no bicentenário do seu nascimento e “Os cadernos póstumos do Clube Pickwick” vêm aplaudir, com grande entusiasmo e alegria, em segunda edição de bolso (um pouco grande), esse grande fazedor de caricaturas e de situações mundanas. Fazem sorrir agora as noites de uma crise que entristece e deprime, recordando outras crises oitocentistas, também elas económicas e sociais. Um livro pertencente à coleção que a editora Tinta da China dedica ao humor, cuja coordenação é de Ricardo Araújo Pereira. As ilustrações originais são da autoria de Robert Seymour e Hablot Knight Browne. As amáveis 935 páginas (e respetiva capa) surgem abraçadas por uma cinta vermelha, onde a publicidade escreve que é “O livro que Fernando Pessoa lamentava já ter lido, por não poder voltar a lê-lo pela primeira vez”.

livro “Os cadernos de Pickwick”, de Charles Dickens
Tinta da China, 2012

 

João Eduardo Ferreira:
Livro inteligente, risonho, excelente, enorme, que reúne os 20 fascículos que originalmente foram publicados mensalmente entre 1836 e 1837, subdivididos em 57 capítulos, cheio de prefácios e posfácios do autor, do coordenador, do tradutor, com mapas de Londres e afins, com notas biográficas e tudo… Um livro tão excessivo no seu realismo humorístico que se torna surrealista. Qualquer coisa me faz lembrar, em termos de retroação, “Monty Python’s Flying Circus” (1969-1974) ou “Três homens num barco (já para não falar do cão)” de Jerome K. Jerome (1859-1927).

 

site do Charles Dickens Museum

facebook de Charles Dickens

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