Alguns álbuns parecem ser a otimista confirmação de que existe ainda um entendimento possível entre seres humanos, e de que, existindo, este terá certamente de ser musical. “Now is”, que o Ingebrigt Håker Flaten New York Quartet agora nos apresenta, parece engrossar esse inventário. Com um processo de criação quase totalmente baseado no improviso coletivo, “Now is”, disco com o carimbo de excelência da Clean Feed, reúne alguma da música mais orgânica que nos foi dada a ouvir em tempos recentes. Ingebrigt Håker Flaten já nos habituou a um grau de exigência louvável nas colaborações que regularmente mantém: do omnipresente Ken Vandermark ao enorme Evan Parker ou ao projeto que ergue com Mats Gustafsson e com Paal Nilssen-Love, The Thing, o baixista norueguês já provou que o trabalho em equipa é indubitavelmente uma das suas idoneidades. Flaten reúne agora um quarteto, nova-iorquino mas pouco, que tem tudo para dispensar qualquer direção ou condução – a harmonia do diálogo surge sem premissas: à inconformista energia dos sopros de Nate Wooley e de Joe McPhee (com quem Ingebrigt gravou o longa duração “Brooklyn DNA“, publicado há poucos meses) junta-se ainda a impoluta poesia da guitarra de Joe Morris, numa comunicação que se estabelece sem ruído ou ambiguidades. Uma quase total ausência de elementos de percussão parece estar na origem de uma musicalidade que flui ininterruptamente, criando uma obra total e una, irredutível a fragmentos. Em alguns temas, como “Times”, a guitarra clássica assume o protagonismo, cedendo-lhes a languidez de um jazz de genealogia cigana, que vai constantemente sendo perpassado por uma tonalidade de mistério que as incursões dos metais lhe concedem. “Now is” assume a forma de um vagaroso desentorpecimento sonoro, cujo enquadramento enigmático dá acesso a uma cacofonia urbana e a uma nostalgia indolor, quase indolente.
disco “Now is”, de Ingebrigt Håker Flaten New York Quartet
Clean Feed / Trem Azul, 2012
