“A antropologia face aos problemas do mundo moderno”, de Claude Lévi-Strauss

Três anos após a morte de Claude Lévi-Strauss (1908/2009), um dos mais influentes pensadores das ciências sociais e humanas do século XX e pai fundador da antropologia moderna e estutural, são publicadas três conferências proferidas pelo antropólogo em Tóquio, a convite da Fundação Ishizaka, no ano de 1986, e às quais Lévi-Strauss deu, enquanto conjunto, o nome “A antropologia face aos problemas do mundo moderno”. Nesta série de palestras, o autor reflete sobre os problemas culturais e humanos da contemporaneidade e recorre à antropologia com um duplo propósito: procurar novas formas de interrogar esses problemas e, sobretudo, encontrar respostas. Inquire, para esse efeito, sobre a essência do estudo e da metodologia antropológica – para propor que a antropologia procura lançar um olhar original sobre o mundo contemporâneo – e, a partir daí, problematiza em torno das questões sociais e culturais que o inquietam: examina a decadência da sociedade ocidental (expondo as suas contradições) e oferece, como contraponto, o modelo das sociedades primitivas. Denuncia “o fim da supremacia cultural no ocidente” (título que leva a primeira das suas conferências), uma consequência do desregrado progresso civilizacional da sociedade liberal moderna, e singulariza o olhar antropológico como aquele que convida a uma reconciliação do homem com a natureza e com outras culturas. Lévi-Strauss faz um elogio da antropologia – considerando-a como uma forma de humanismo – e propõe uma doutrina de relativismo cultural. Advoga que é fundamental raspar a tinta de preconceitos própria de cada cultura para pensar os problemas do mundo contemporâneo. Para esse efeito, Lévi-Strauss pensa três grandes temáticas modernas – a sexualidade, o desenvolvimento económico e o pensamento mítico – e, à luz de uma série de paralelismos e analogias com as sociedades primitivas, traça pistas de reflexão para temas tão na ordem do dia como a genética, a homossexualidade, a adoção, a diversidade cultural, o racismo e a mundialização. A linguagem muito acessível do autor, os seus inúmeros relatos e exemplos (sobretudo do Japão, país fiel a si próprio, com que a sociedade ocidental e a antropologia têm muito a aprender), bem como referências a alguns dos seus anteriores trabalhos (como “Mitológicas” ou “O pensamento selvagem”), fazem deste livro um bom manual iniciático para a obra de Lévi-Strauss e para os estudos de antropologia.

livro “A antropologia face aos problemas do mundo moderno”, de Claude Lévi-Strauss
Temas e Debates, 2012

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