Se é verdade que “Não” foi, nas salas escuras, uma das grandes revelações deste nosso ano cinematográfico de 2013, não é menos verdade que a sua redescoberta em dvd envolve um ganho tão desconcertante quanto revelador. De facto, ao filmar os bastidores das campanhas para o plebiscito chileno de 1988 (que ditou o princípio do fim da ditadura de Pinochet), Pablo Larraín usou câmaras de video do formato U-matic, na altura dominante na produção televisiva. Na prática, isso permite-lhe usar as imagens originais das campanhas (do “sim” e do “não” a Pinochet) sem que haja uma clivagem visual entre as memórias evocadas e o seu próprio trabalho de ficção. Mais do que isso: tal “semelhança” surge reforçada pelos peculiares poderes dos nossos ecrãs caseiros. É uma maneira de dizer que, em alguns casos, a energia realista se conquista também através da reintegração crítica dos materiais da época evocada. É também uma bela lição, prática e teórica, do que significa fazer uma reconstituição histórica.
João Lopes
dvd “Não” [“No”], de Pablo Larraín, com Gael García Bernal, Alfredo Castro,…
Alambique, 2012 / 2013