“Não”, de Pablo Larraín

pablo larrain nao

No centro dos filmes de Pablo Larraín encontramos alguns frágeis anti-heróis: em “Tony Manero”, um homem que tem uma fixação na personagem de John Travolta em “Febre de sábado à noite”; em “Post mortem”, um empregado da morgue de Santiago do Chile; e, agora, em “Não”, um empregado de uma agência publicitária. Para todos eles, a história da ditadura de Pinochet não é um mero pano de fundo, mas sim um caldeirão imenso de convulsões que, de uma maneira ou de outra, contaminam todas as componentes, mesmo as mais privadas, de cada existência individual. No caso de “Não”, a atividade do criativo interpretado por Gael García Bernal (precisamente ao serviço da campanha do “Não”, no plebiscito de 1988 que iria selar o fim político de Pinochet) envolve os peculiares mecanismos de colaboração entre publicidade e política, expondo um momento crítico de uma complexa conjuntura histórica. Larraín consegue reivindicar um realismo dos corpos e dos gestos que nos obriga a relativizar todas as representações mais ou menos românticas, porventura redentoras, do jogo político. Daí a sua desconcertante e salutar pedagogia: uma exaltação do labor pela democracia em que já não há utopias imaculadas nem amanhãs que cantam.

João Lopes

25 abril [estreia nacional]
filme “Não” [“No”], de Pablo Larraín, com Gael García Bernal, Alfredo Castro,…
Alambique, 2012 / 2013

 

texto no Sound + Vision [ 1 ]

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