Abbas Kiarostami, Jafar Panahi, Asghar Farhadi,… Pensamos nos muitos (e notáveis) filmes do Irão que conhecemos e, de uma maneira ou de outra, somos levados a perguntar como é que neles se retrata uma sociedade que sabemos complexa, enigmática, porventura impenetrável. Seja como for, talvez valha a pena inverter essa expetativa, perguntando antes: que sociedade vemos através das histórias e personagens desses filmes? “Uma família respeitável” pode ajudar-nos a responder. De facto, através da odisseia de um professor que regressa ao seu país para resolver uma teia de questões jurídicas relacionadas com a morte do pai, a primeira e mais forte sensação é a de uma sociedade em que cada um existe apenas através da ilusão de alguma máscara. Do logro familiar à impostura estatal (por vezes unidos pela mais silenciosa corrupção), Massoud Bakhshi confronta-nos com um universo em que o simples reconhecimento da diferença do outro parece estar, momento a momento, ameaçado. Sendo ele um cineasta formado na área documental, isso ajudará a definir a proeza desta sua primeira longa metragem de ficção: elaborar uma perturbante e reveladora arquitetura dramática, mantendo uma respiração e uma urgência que, por princípio, associamos à mais realista das reportagens.
João Lopes
1 agosto [estreia nacional]
filme “Uma família respeitável” [“Yek khanévadéh-e mohtaram”], de Massoud Bakhshi, com Babak Hamidian, Mehrdad Sedighian,…
Alambique, 2012 / 2013