Perversamente, o mercado gerou um novo modelo de (in)visibilidade: o filme que não funciona nas salas… “360” é um belo exemplo desses objetos erráticos que, de tão nostálgicos ou tão futuristas (será a mesma coisa?), parecem não encontrar lugar estável no circuito tradicional. E, no entanto, passam por aqui alguns atores em estado de graça, incluindo Anthony Hopkins na sua mais depurada contenção, ou Rachel Weisz e Jude Law representando, com tocante vulnerabilidade, o jogo cruel da mentira conjugal. Mais do que isso: estão aqui investidas memórias mais que respeitáveis. Meirelles transfere para o nosso tempo o dispositivo circular, de histórias e personagens, que Max Ophuls criou em 1950, no clássico “La ronde”, por sua vez adaptando uma peça de Arthur Schnitzler. O cineasta brasileiro conta com o contributo do argumentista Peter Morgan, narrador subtil que escreveu coisas magníficas como “Frost / Nixon” (a partir de uma peça de sua autoria), para Ron Howard, ou “Hereafter”, para Clint Eastwood. Em cena estão personagens de lugares muito diversos (Viena, Paris, Londres, etc.) que vivem, por assim dizer, escondidas das próprias teias de relações e cumplicidades que as aproximam. A verdadeira alienação, outrora uma palavra chave de todas as sociologias de bolso, será esta: por distração, ingenuidade ou cinismo, podemos desconhecer a história a que pertencemos. Certamente não por acaso, tudo começa com um homem a fotografar uma mulher numa sessão “artística” que envolve uma teia de prostituição: há uma sedução imediata da pose e do “look” que, não poucas vezes, no nosso presente, tem a ver com mundos em que o ser humano pode já nem sequer ter direito à sua imagem.
dvd “360 – A vida é um círculo perfeito” [“360”], de Fernando Meirelles, com Anthony Hopkins, Jude Law, Rachel Weisz,…
Zon, 2011 / 2013
João Lopes
