A multifacetada artista norteamericana Miranda July já havia apresentado, em 2005, uma singularíssima primeira longa metragem – “Eu, tu e todos os que conhecemos” traçava uma marca autoral com claras apostas num diálogo entre o cinema independente e expressões estéticas afetas, como a performance ou o video, e antevia uma linguagem particular, versada na ingenuidade, na candura e numa visão que ora pendia para o idílio, ora para uma total perdição do mundo. “O futuro”, estreado no ano passado no Festival Sundance, confirma que July cria, também cinematograficamente, um universo próprio de interrogação. Assumindo a realização, a escrita do argumento e a interpretação, à semelhança do trabalho precedente, desenvolve nesta peça uma reflexão em torno de um casal em crise e do seu confronto com o tempo aquando do aparecimento de um novo elemento que parece vir perturbar o insípido estado das coisas. Paw-Paw é um gato em fase terminal que Sophie (Miranda July) e Jason (Hamish Linklater) decidem adotar e cujo espetro que lhe vem associado – a prisão da responsabilidade, como se de uma criança se tratasse – desencadeia um rol de autoavaliações sobre o passado (essa porção maior de vida que é irrecuperável), o vazio do presente e a incapacidade de lidar com o nada que o futuro reserva. Um revelador exercício sobre os abismos emocionais e as distâncias afetivas que se procuram superar, “O futuro” estreia nesta semana em salas nacionais.
16 agosto [estreia nacional]
filme “O futuro” [“The future”], de Miranda July, com Miranda July, Hamish Linklater,…
Leopardo Filmes, 2011 / 2012
