“Extremamente alto e incrivelmente perto”, de Jonathan Safran Foer, e “Extremamente alto, incrivelmente perto”, de Stephen Daldry

capa jonathan safran foer extremamente alto e incrivelmente perto

Originalmente publicado em 2005, este livro regressa à ribalta graças à adaptação cinematográfica de Stephen Daldry, estreada ontem em Portugal, com o jovem Thomas Horn, Sandra Bullock e Tom Hanks nos principais papéis. A atração inicial da obra de Jonathan Safran Foer surge graças à originalidade gráfica, com a inclusão de fotografias, de sinalética, de arranjos e jogos tipográficos do texto, terminando com o desconcertante mini flip book final – a ascensão e/ou queda (consoante a orientação da manipulação) de uma figura humana, junto de uma das Twin Towers. Se contamos com o original design, contemos em maior medida com a desafio da narrativa: uma panóplia de genuinidade e artificialidade, de convenção e manipulação exasperante, de escrita e de emoções, em sedução e perplexidade, tédio até, riso decerto, mas sempre intenso e desconfortável, contraditório, desassossegado até ao fim.

livro “Extremamente alto e incrivelmente perto”, de Jonathan Safran Foer
Bertrand Editora, 2012

1 março [estreia nacional]
filme “Extremamente alto, incrivelmente perto” [“Extremely loud and incredibly close”], de Stephen Daldry, com Thomas Horn, Sandra Bullock, Tom Hanks, Viola Davis, Max von Sydow,…
Columbia TriStar Warner, 2011 / 2012

 

João Eduardo Ferreira:
Como sobreviver ao futuro, sem alterarmos a memória? Como viver com um facto inexplicável que, sistematicamente, como uma obsessão, faz regressar o dia a dia de volta a esse passado? Talvez usando a cartografia inalterada da cidade e aí colocar todos os afetos, como peões num Jogo da Glória. Nova Iorque é o nosso Jogo da Glória, sobre o qual Stephen Daldry oferece a realidade como se fosse uma ficção. Assim sobreviveremos.

Paula Pina:
Homenagem e provocação, este é sobretudo um livro sobre as perdas, as dores, as saudades, não apenas sobre a perda, a dor e a saudade do menino prodígio protagonista, que perde o pai no ataque terrorista às Twin Towers de Nova Iorque no dia 11 de setembro. “Extremamente alto e incrivelmente perto”, da autoria do jovem professor premiado Jonathan Safran Foer, pode ser lido aos pedacinhos ou aos solavancos, pode ser atirado e abandonado, mas não pode ser esquecido. O início arrebatador e divertido, fervilhando ideias surpreendentes, apresenta-nos o jovem Oskar, de nove anos, e por ele nos apaixonamos, mesmo quando nos irrita profundamente. Tocante, muitas vezes, quando se descuida a ânsia de originalidade e se regressa à fluidez das vozes de escrita que narram as vivências de episódios de vida passada dos avós, este é igualmente um livro sobre a capacidade de inventar a realidade à medida da perda e da aceitação. É uma obra que se testa, que testa, e testa também quanto nós, leitores, a conseguimos ler e aceitar.

texto no Sound + Vision

 

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