Mieczyslaw Weinberg (1919 / 1996) parece ter nascido para viver um dos períodos mais sombrios da história. A sua obra, não obstante a prolificidade e o virtuosismo do compositor, tem permanecido envolta numa quase invisibilidade nos inventários da música erudita ocidental. Gidon Kremer, que com o autor de origem polaca partilha o legado histórico e o (não menor) virtuosismo, recupera aqui alguns dos seus trabalhos para cordas, cedendo-lhes uma impressão pessoal e possibilitando o abalo anacrónico e, consequentemente, revigorante que é ouvi-las hoje. O duplo CD agora lançado pela ECM New Series parece traçar um iluminado retrato de Weinberg, a quem a memória coletiva parece não ter sabido dar a merecida relevância. Longe de ouvirmos apenas os ecos de um esteta lamentavelmente tão ostracizado, a sonoridade do todo a que o álbum dá forma ilustra de certo modo um século sombrio: todos esses pontos de contacto com um tempo e um espaço em tudo remotos vão sendo desvelados nesta música, renascida nas mãos de Kremer e da Kremerata Baltica, orquestra por este fundada em 1997. Resta-nos interpretar, com otimismo, que a publicação deste registo seja o prelúdio de uma abordagem inovadora à obra de compositores como Weinberg, cuja obscuridade e intrepidez de uma defunta voz soviética tem mantido praticamente silenciada e recôndita para os menos atentos.
disco “Mieczyslaw Weinberg”, de Gidon Kremer e Kremerata Baltica
ECM / Distrijazz, 2014