Sabemos que a noção de cinema independente americano adquiriu uma fundamental ambivalência, muitas vezes desafiando as fronteiras mais tradicionais entre os grandes estúdios e as produções “alternativas” (que, não poucas vezes, surgem apoiadas pelos… grandes estúdios). Este “Short term 12” poderá, talvez, definir-se como uma reminiscência da mais primitiva atitude independente, quanto mais não seja porque um filme que, nos Estados Unidos, custou menos de um milhão de dólares é qualquer coisa à beira do inacreditável. Em boa verdade, o trabalho de Destin Daniel Cretton, retomando a temática da curta metragem homónima que o revelou na edição de 2009 do Festival de Sundance, envolve um dos grandes sintomas transversais da atualidade. A saber: a revalorização do ator como elemento nuclear do dispositivo cinematográfico e também da sua intransigente dimensão humana, tendencialmente humanista, impossível de reduzir a quaisquer proezas (mesmo as mais fascinantes) dos tão celebrados efeitos especiais. Brie Larson, no papel de Grace, uma jovem assistente de uma instituição de apoio a adolescentes em situação de risco, pode servir de símbolo modelar da energia – afetiva e dramática, conceptual e narrativa – que encontramos em “Temporário 12”: transportando as memórias dos seus próprios traumas da adolescência, Grace é esse ser tecido de desilusão e esperança que não abdica da possibilidade de integrar aqueles que parecem definitivamente perdidos para as exigências e a responsabilidade que qualquer relação envolve. Cretton encena tais convulsões a partir de uma vontade realista cujas raízes são visceralmente clássicas: este é mesmo um exemplo de cinema imbuído do mais puro classicismo, sem que isso o afaste, bem pelo contrário, das vivências do mundo contemporâneo. Infelizmente, não podemos deixar de reconhecer também que, no contexto português, “Temporário 12” fica como um exemplo dos magníficos filmes (e não foram poucos…) que, ao longo de 2013, chegaram ao mercado com escasso apoio promocional, por vezes mesmo no mais absoluto anonimato. Lembremos apenas que a celebração dos blockbusters como único padrão de consumo para os espetadores – e, em particular, para os adolescentes – envolve uma banalização artística e uma formatação cultural que importa contrariar. Sem esquecer que, apesar de tudo, “Temporário 12” chegou às salas.
João Lopes
25 dezembro [estreia nacional]
filme “Temporário 12” [“Short term 12”], de Destin Daniel Cretton, com Brie Larson, John Gallagher Jr.,…
Vendetta Filmes, 2013