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“Desligados”, de Henry-Alex Rubin

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O título português joga numa ironia amarga: as personagens estão ligadas pelos mais variados circuitos e dispositivos da internet (telemóveis, tablets, chats, etc.), mas tudo isso existe também como um simulacro através do qual todos os envolvidos, conscientemente ou não, tentam negar muitas formas de solidão, no fundo mantendo-se… desligados. Faz sentido. E tanto mais que o filme de Henry-Alex Rubin consegue a proeza (pouco na moda) de duvidar da transparência humana do valor social de muitas redes – este é mesmo um dos filmes mais admiráveis que já se fizeram sobre a nossa conjuntura virtual, nessa medida afirmando-se como um dos poucos e legítimos herdeiros de “A rede social” (2010), de David Fincher. Em todo o caso, vale a pena acrescentar que o título original, “Disconnect”, pode ser interpretado como um enunciado imperativo: “Desliga!” Porquê? Porque aquilo que Rubin também coloca em cena é o mais insidioso fantasma comunicacional dos nossos dias: por um lado, acedemos a um número infinito de ligações, por vezes eufóricas, quase todas elas construídas a partir do mais absoluto desconhecimento do “outro” que, algures, confirma que estamos em rede; por outro lado, há nessa experiência um medo visceral, quase fisiológico, que nos pode levar a sentir a urgência de… desligar! Trabalhando a partir de um notável argumento de Andrew Stern, o realizador consegue mostrar como a sobrecarga de links e informações funciona também como uma banalização do lugar em que vivemos. No limite, este é um filme sobre os corpos como entidades à deriva num universo construído a partir de gratificações instantâneas. Ou como o excesso de informação pode ser o mais cruel mecanismo de desconhecimento.

João Lopes

7 novembro [estreia nacional]
filme “Desligados”  [“Disconnect”], de Henry-Alex Rubin, com Jason Bateman, Jonah Bobo,…
Outsider Films, 2012 / 2013

 

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