Natural de Detroit (nascido em 1942), Sixto Rodriguez cumpriu uma bizarra carreira de cantor folk: gravou dois álbuns, “Cold fact” (1970) e “Coming from reality” (1971), e… desapareceu. Ou quase: isto porque se tornou um imenso e insólito caso de sucesso na África do Sul, a ponto de as metáforas políticas das suas canções encontrarem eco nos primeiros protestos de jovens brancos contra o apartheid. História incrível, sem dúvida, que o filme do sueco Malik Bendjelloul (distinguido com o Oscar de melhor documentário) revisita num misto de espanto e didatismo. E se é verdade que por aqui passam os sinais fascinantes e contraditórios de um tempo de muitas transformações culturais, não é menos verdade que a componente mais íntima se confunde com a solidão criativa de Rodriguez, aliás de algum modo confirmada pelos testemunhos das filhas e colaboradores. Vale a pena lembrar, por exemplo, que o emblemático “Inner city blues” (do primeiro álbum) começa assim: “Going down a dirty inner city side road / I plotted / Madness passed me by, she smiled hi / I nodded / Looked up as the sky began to cry / She shot it.”
João Lopes
6 junho [estreia nacional]
filme “À procura de Sugar Man” [“Searching for Sugar Man”], de Malik Bendjelloul
Alambique, 2012 / 2013