Como é sabido, “Linhas de Wellington” começou por ser um projeto, produzido por Paulo Branco, para o cineasta chileno Raúl Ruiz. O falecimento de Ruiz, em 2011, quando já tinha começado a pré-produção, fez com que fosse a sua viúva, Valeria Sarmiento, a assumir a realização. Tal genealogia terá contribuído, mesmo junto dos mais entusiastas, para considerar o filme uma derivação das componentes mais fortes do universo de Ruiz (que, para mais, em 2010, assinara outro épico histórico: “Mistérios de Lisboa”). Creio que, mais do que nunca, importa discutir essa visão. Desde logo porque Sarmiento não tenta “imitar” o estilo de ninguém, mas sobretudo porque “Linhas de Wellington” assume, sem preconceitos, um certo tradicionalismo narrativo que o remete, não exatamente para o peculiar onirismo de Ruiz, mas sim para o modelo clássico do fresco histórico. Tal opção está longe de ser banal na caraterização das guerras napoleónicas e, em particular, nos efeitos sociais da Batalha do Buçaco. De facto, Sarmiento afasta-se, ponto por ponto, do determinismo televisivo que reduz a história a uma “ilustração” de temas, propondo uma galeria de figuras em cuja singularidade ecoam as contradições de toda uma época. Não por acaso, este é um filme em que os atores (John Malkovich, Nuno Lopes, José Afonso Pimentel, Maria João Bastos, Melvil Poupaud, etc.) são convocados para sublinhar as pequenas diferenças de personagens que existem para além de qualquer cliché dramático. O género histórico, hélas!, está longe de ser uma curiosidade remota.
João Lopes
dvd “Linhas de Wellington”, de Valeria Sarmiento, com John Malkovich, Nuno Lopes, Carloto Cotta,…
Alfama Films / Leopardo Filmes, 2012 / 2013
