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“Um caso real”, de Nikolaj Arcel

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Será que ainda existe espaço para o género histórico, tal como foi praticado durante décadas, tanto em Hollywood como no contexto europeu? A pergunta não é meramente académica, uma vez que a sua formulação não pode ignorar o efeito de “normalização” que a televisão tem imposto nessa área. Daí que esta produção dinamarquesa (que representou o seu país na corrida para o Óscar de melhor filme estrangeiro, ganho por “Amor”, de Michael Haneke) envolva uma afirmação, a um tempo estética e simbólica, que importa valorizar: não só o filme histórico continua a ser uma matriz plena de potencialidades, como as suas regras podem estar ao serviço de uma subtil desmontagem das aparências que assombram a política e os seus protagonistas. Assim, a evocação do reinado de Cristiano VII da Dinamarca, na segunda metade do séc. XVIII, confronta-nos com uma perturbante duplicidade: por um lado, esta é uma época atravessada por muitos impulsos revolucionários, em especial devido aos ventos que sopravam de França; por outro lado, as perturbações mentais do monarca vão afetar toda a sua gestão e, muito em particular, o destino de sua mulher, Carolina Matilde, de origem britânica. Por uma vez, um filme aposta na chamada “reconstituição”, não para passagens de modelos com o guarda-roupa da época ou deambulações turísticas por castelos e palácios, antes integrando todos esses elementos numa visão orgânica e contagiante. Está em jogo a dialética entre os grandes movimentos coletivos e as singularidades individuais.

21 março [estreia nacional]
filme “Um caso real” [“En kongelig affære”], de Nikolaj Arcel, com Alicia Vikander, Mads Mikkelsen,…
Alambique, 2012 / 2013

João Lopes

 

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