“Lincoln”, de Steven Spielberg

steven spielberg lincoln

Na composição de Abraham Lincoln por Daniel Day-Lewis, há uma incrível semelhança do ator com o rosto e a pose do retratado. Uma herança iconográfica muito precisa ajuda a explicar tal rigor: em termos históricos, ele foi o primeiro Presidente dos Estados Unidos da América (em boa verdade, um dos primeiros líderes políticos de todo o planeta) a possuir um genuíno e relativamente vasto portfolio. Seja como for, tal efeito é estrutural, supera qualquer mecanismo banal, e banalmente televisivo, de “cópia”. O que Spielberg procura é a verdade multifacetada de uma época, dos seus protagonistas e do turbilhão das suas ideias. E a verdade de Lincoln começa num certo modo de estar, íntimo e político, corporal e simbólico, que envolve um reconhecimento radical: o de que o fim da escravatura estaria sempre muito para além do rigor jurídico de um novo quadro legal. A partir daí, o próprio modo de pensar, escrever e executar as leis iria mudar. “Lincoln” é um filme sobre isso mesmo: um desses momentos em que tudo conflui na encruzilhada da história e em que tudo parece possível. Um grande cineasta, quer dizer, um grande narrador nunca falha semelhante oportunidade. Moralmente. Politicamente.

31 janeiro [estreia nacional]
filme “Lincoln” [“Lincoln”], de Steven Spielberg, com Daniel Day-Lewis, Sally Field, Tommy Lee Jones,…
Twentieth Century Fox / Big Picture, 2012 / 2013

João Lopes

 

texto no Sound + Vision

 

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