Não deixa de ser desconcertante que a imagem de Hollywood como “fábrica de efeitos especiais” continue a ser aquela que, em muitas formas de (des)informação, é aplicada para descrever o cinema americano. O filme de Kathryn Bigelow aí está para desmentir tal visão. Não que seja um objeto tecnicamente frouxo. Bem pelo contrário. Mas a sua sofisticação técnica só faz sentido em função da sua prodigiosa sofisticação narrativa e simbólica. Bigelow filma o processo de investigação que conduziu à captura de Osama bin Laden como o cruzamento de uma memória traumática (os atentados do 11 de setembro) com uma redefinição do imaginário bélico contemporâneo (na luta contra o terrorismo). É um filme que se descobre quase como uma reportagem, mas que tem o fulgor, a precisão e a perturbação de uma odisseia trágica.
17 janeiro [estreia nacional]
filme “00:30, a hora negra” [“Zero dark thirty”], de Kathryn Bigelow, com Jessica Chastain, Jason Clarke, Jennifer Ehle,…
Universal / Zon, 2012
João Lopes