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“A invenção de Hugo”, de Martin Scorsese

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A primeira incursão do realizador Martin Scorsese no universo das potencialidades 3d acontece neste recente “Hugo”, longa metragem baseada no livro infantojuvenil “A invenção de Hugo Cabret” (2007), de Brian Selznick. Com guião de John Logan e a presença de atores cumpridores – como os jovens Asa Butterfield e Chloë Grace Moretz, o cómico Sasha Baron Cohen, os experientes Jude Law e Christopher Lee, e ainda o magnífico Ben Kingsley -, este é um filme sobre filmes, um filme sobre sonhos e um tributo às origens do cinema. A história da sétima arte e, em particular, a história de um dos seus mais ilustres e mágicos fundadores, Georges Méliès, é aqui recontada em narrativa bem condensada e didática: como protagonista, um orfão dickensiano, que se movimenta em cenários que recordam Tim Burton e Steven Spielberg. Sublinhe-se a viciante presença de trechos de clássicos de Méliès (e do cinema), como “Le mélomane”, de 1903, ou “Le voyage dans la lune”, de 1902, e de nomes como os de Buster Keaton, D. W. Griffith, Robert Wiene, Georg W. Pabst, Edwin S. Porter ou Harold Lloyd. Para além da mestria no manejo de um “novo” recurso técnico, Scorsese faz-nos recuar no tempo e experienciar o espanto (e o susto) das primeiras audiências. Um espanto visual chamado “A invenção de Hugo”, num 3d sem sustos, para toda a família.

16 fevereiro [estreia nacional]
filme “A invenção de Hugo” [“Hugo”], de Martin Scorsese, com Asa Butterfield, Ben Kingsley, Chloë Grace Moretz, Sacha Baron Cohen,…
Zon, 2011 / 2012

 

João Lopes:
Depois de Spielberg (“As aventuras de Tintin”), precisávamos de Martin Scorsese para nos garantir que, afinal, o 3d é mesmo uma questão narrativa, não um “luxo” visual. Dito de outro modo: ao adaptar a novela gráfica de Brian Selznick, o realizador de “Taxi driver” mostra que a integração das três dimensões pode (e deve) ser indissociável de um entendimento do espaço que se liga com a elaborada gestão do tempo (ou melhor, da duração). O resultado, para além de visualmente deslumbrante, possui o poder encantatório das fábulas que nascem, não da ostentação da técnica, mas da delicada escuta dos mecanismos interiores das personagens. Por alguma razão, este é também um filme sobre a ordem e desordem dos relógios.

Paula Pina:
Esta obra de Scorsese obriga-nos a refletir, entre tiquetaques mecânicos de engrenagens, no topo da torre do relógio, sobre as dimensões ontológica e filosófica do homem, do mundo, da arte, numa lógica argumentativa dedutiva pura: “Se o mundo é uma máquina, então eu não sou uma peça sobresselente. Estou aqui por uma razão.” Este filme de Scorsese é uma dádiva e uma paradoxal homenagem múltipla: aos pioneiros, aos mestres, à literatura e ao cinema, à arte e à tecnologia, do passado, do presente e do futuro. texto no Cria Cria

 

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