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Ciclo Ingmar Bergman

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A realização, em várias cidades do país, de um ciclo com 17 filmes de Ingmar Bergman (1918 / 2007) envolve algo mais do que a possibilidade de ver ou rever uma coleção de preciosidades que vão desde os clássicos consagrados em todas as histórias do cinema — “Mónica e o desejo” (1953), “Morangos silvestres” (1957) ou “A máscara” (1966) — até raridades absolutas, inicialmente concebidas para televisão, como “Ritual” (1969) ou “Depois do ensaio” (1984). Estamos mesmo para além da feliz confirmação do regresso das chamadas reposições, iniciado de forma emblemática, em finais de 2012, com “Vertigo” (1958), de Alfred Hitchcock. Assim, podemos dizer que o reencontro com a obra de Bergman se confunde com a reativação de uma noção radical do próprio Cinema (permitam-me a maiúscula…). Aliás, o seu universo possui essa capacidade admirável de nos fazer sentir que a narrativa cinematográfica, sabendo convocar as mais diversas componentes exteriores, como as deambulações musicais ou as vibrações teatrais, persiste sempre como um singularíssimo exercício de convívio com o fator humano. Talvez por isso, somos tentados a dizer que nunca ninguém como Bergman construiu uma obra tão obsessivamente conduzida pelo primado dos atores e das atrizes. E é importante dizê-lo desta forma, explicitando masculino e feminino: estes filmes são também viagens intemporais através das evidências muito humanas da alegria e do medo, do desejo e da morte. Mais ainda: num contexto audiovisual (português) dominado pela banalidade da formatação televisiva, redescobrir filmes que são também séries de televisão — “Cenas da vida conjugal” (1973) e “Fanny e Alexandre” (1982) — é uma experiência que nos recorda que não há nenhuma razão para pactuarmos com a mediocridade que limita a inteligência do nosso presente.

João Lopes

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