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“O passado”, de Asghar Farhadi

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E se o lugar a que pertencemos fosse uma pura construção mental? A hipótese envolve, por certo, uma sedução infantil, mas também uma promessa de pânico. O iraniano Asghar Farhadi é um retratista de tal hipótese, dos desejos e pensamentos que a sua formulação pode envolver. Em “Uma separação” (2011), deparávamos com o desgaste cruel do mapa conjugal. Agora, o tema persiste, de novo através de um caso de divórcio, mas com um estranho suplemento geográfico, numa espécie de ziguezague afetivo entre o Irão e a França. O triângulo amoroso, ele, ela e o “outro” (Ali Mosaffa, Bérénice Bejo e Tahar Rahim), acaba por gerar a metódica deterioração de qualquer impulso amoroso, deixando, precisamente, a questão cortante da pertença: afinal, que lugar cada um constrói quando partilha (ou julga partilhar) o espaço de um outro? E não deixa de ser desconcertante que venha, assim, de um cineasta do Irão esta tão admirável afirmação da importância dos atores como elemento fulcral da narrativa cinematográfica – sendo uma narrativa também um lugar que nos acolhe.

João Lopes

25 dezembro [estreia nacional]
filme “O passado” [“Le passé”], de Asghar Farhadi, com Bérénice Bejo, Ali Mosaffa, Tahar Rahim,…
Alambique, 2013

 

texto no Sound + Vision

 

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