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“Grand Central”, de Rebecca Zlotowski

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É bem verdade que, na última década, algum do mais interessante cinema francês nasce de uma paciente revalorização dos dispositivos específicos do melodrama. O caso de “Grand Central” é tanto mais subtil quanto um dos mais viscerais elementos melodramáticos – a irredutibilidade de cada corpo – surge enquadrado pelo tema sempre perturbante da energia nuclear e dos seus usos sociais. Assim, o amor de Karole (Léa Seydoux) e Gary (Tahar Rahim), ambos trabalhadores de uma central nuclear que produz energia elétrica, envolve uma perversa instabilidade: porque podem acontecer as mais perigosas formas de contaminação e também porque cada um deles, afinal, contamina o outro com a luminosa insensatez do seu desejo. Por certo consciente das muitas questões políticas e económicas que o nuclear tem desencadeado na sociedade francesa, Rebecca Zlotowski resiste a qualquer simplificação panfletária: os seus “heróis” românticos são apenas figurantes de uma dinâmica global. É isso também que lhes confere uma emoção única, devidamente ampliada pelo corpo a corpo dos atores.

João Lopes

24 outubro [estreia nacional]
filme “Grand Central” [“Grand Central”], de Rebecca Zlotowski, com Tahar Rahim, Léa Seydoux,…
Alambique, 2013

 

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