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“Hannah Arendt”, de Margarethe von Trotta

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De onde vem a noção de “a banalidade do mal”, formulada por Hannah Arendt, no ano de 1961, ao escrever sobre o julgamento, em Jerusalém, do nazi Adolf Eichmann? Sabemos que vem de uma exigência radical, radicalmente perturbante e polémica: a de tentar compreender o comportamento de Eichmann para além de qualquer abstração do mal, conferindo especial atenção ao facto de ele próprio se apresentar como um elo “passivo” (banal, precisamente) de uma hierarquia militar. Mas vem também da observação de Eichmann nas imagens do seu julgamento. O filme de Margarethe von Trotta é construído a partir da contundência dessas imagens: existem várias horas de registo, em video, das palavras de Eichmann no tribunal e a cineasta alemã coloca a sua Hannah Arendt, interpretada pela brilhante Barbara Sukowa, como primeira espetadora dos documentos audiovisuais que nós também descobrimos, numa espécie de campo/contracampo que amplia, diversifica e questiona o confronto encenado no interior do filme. E só por precipitação ou má fé se poderá acusar a cineasta de querer “encerrar” a figura de Hannah Arendt numa redoma de certezas. Bem pelo contrário: além de não iludir as muitas divergências que os seus escritos suscitaram, desde logo na comunidade intelectual judaica, este é um objeto de cinema capaz de iluminar o movimento do próprio pensamento, suas digressões e hesitações, envolvendo a incerteza das palavras e a cristalização das frases. Deparamos, enfim, com a duplicidade visceral do ato de pensar, oscilando entre a pluralidade perturbante da vida e a fronteira inultrapassável da morte.

João Lopes

3 outubro [estreia nacional]
filme “Hannah Arendt” [“Hannah Arendt”], de Margarethe von Trotta, com Barbara Sukowa, Axel Milberg,…
Alambique, 2012 / 2013

 

texto no Sound + Vision

 

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