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“Noiva prometida”, de Rama Burshtein

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Será um detalhe “decorativo”, mas importa dizer que este é um filme que nos envolve, antes de tudo o mais, pela luz: descobrimos rostos e gestos iluminados por uma luz cristalina, sensual e, ao mesmo tempo, com algo de contundente. Dir-se-ia que contemplamos um palco que se confunde com a própria vida quotidiana. Em boa verdade, há aqui, no sentido mais genuíno do termo, uma complexa teatralidade das relações humanas. Rama Burshtein filma uma noiva (“prometida”) de uma família ortodoxa judaica, oscilando entre a pulsão do seu desejo e a ordem moral emanada da própria comunidade a que pertence. Não se trata de escolher os “bons” contra os “maus” ou de favorecer qualquer maniqueísmo pitoresco. Trata-se, isso sim, de reconstruir os mecanismos de preenchimento do vazio gerado pela morte da irmã da protagonista (o título inglês é, aliás, “Fill the void”), observando as enigmáticas interações das instâncias familiares, simbólicas e religiosas. Se o cinema serve para conhecermos o que nunca vimos, “Noiva prometida” é um primoroso exemplo dessa vocação.

João Lopes

29 agosto [estreia nacional]
filme “Noiva prometida” [“Lemale et ha’halal”], de Rama Burshtein, com Hadas Yaron, Yiftach Klein,…
Alambique, 2012 / 2013

 

texto no Sound + Vision

 

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